quarta-feira, 18 de abril de 2012

Cadê o humor, Chico Galindo?


O prefeito de Cuiabá, Chico Galindo, está na minha cota de amigos. O Chico esteve comigo em bons e maus momentos desde 2004, quando tive o prazer de conhecê-lo de perto. A admiração foi mútua. Mas as reciprocidades ficaram por aí, pelo meio do caminho, quando amigos trilham rumos diversos, dentro de suas escolhas e convicções. O Chico fez as dele; eu continuei com as minhas.

O colega Fred Fagundes também é meu amigo, desses que a gente nutre meio a distância, amando seu jeito de ser como que um pouquinho de inveja. Ah, quantas vezes eu quis ser Fred Fagundes na vida! O seu humor desde o Jacaré Banguela me alegra e desperta. O Fred ri para dentro. Gosto de quem tem este dom de ri dos outros sem que os outros se dêem conta.

Pois agora descubro que o amigo Chico está processando o amigo Fred e isto me deixou triste. Penso que o Chico está indo na onda de algum assessor ou familiar mal humorado ou perdeu de vez ele o humor. Só pode. Humor, aliás, ferramenta do Fred para contestar e criticar coisas deste mundo, o qual parte dele, caro Francisco Bello Galindo Filho, você governa: a nossa caliente Cuiabá.

Fiquei sabendo que o Chico colocou a Polícia Federal atrás do Fred Fagundes. Logo o Fred, aquele carinha franzino, com seu ar de intelectual manjado (mais invejas) e de sedutor incontido? Deve ser porque o Fred é um baixinho corajoso. Polícia não gosta de caras desse tipo. O Chico também não gosta de caras como o Fred. Mas eu gosto. Gosto mais de caras como o Fred Fagundes do que da falta de humor do Chico.

O Chico é um neófito (só para usar um chavãozinho básico) na política. Chegou tarde, meio que de carona, e não sabe muito das coisas. Não entende muito esse negócio de administração pública. O negócio do Chico é outro. Mas, enfim, ele chegou lá na prefeitura de Cuiabá e, como bom amigo, torci por ele. Infelizmente venho constatando nos últimos meses que o Chico não é do ramo. Não quero chamá-lo de incompetente, por favor! “Não é do ramo” tá de bom tamanho.

Mas a mesma complacência que eu, João Batista da Silva Negrão, tenho agora, os 551 mil cuiabanos (300 mil para mais ou para menos) não tem. Afinal eu não moro mais aí faz um ano e cinco meses. Portanto, não sou obrigado a sofrer com a falta de água, com a buraqueira, com o caos no trânsito e com a falta total de qualidade de vida crônica na cidade administrada pelo Chico Galindo.

Da última vez que encontrei Chico aqui o indaguei sobre os problemas que ouvia e lia. O Chico, e um de seus auxiliares que o acompanhava, tentaram me convencer do contrário. Se fosse acreditar pensaria ser Cuiabá um paraíso e não o inferno em que está se transformado.

O Chico é um cara simples e às vezes simplista. Por isto eu fico aqui pensando que ele não entendeu o que fez o Fred e nem deve saber direito quem é o Fred. Se soubesse entenderia que humor não é falsidade ideológica. O Fred Fagundes fez a mesma coisa que o outro Fred, o querido cartunista pai do Super Peru, faz: caricatura. E caricatura é humor, Chico.

É óbvio que ninguém deve sentir nenhum prazer em ser transformado numa caricatura, em ver sua administração ser vista como uma caricatura. Mas paciência, Chico! Estamos num mundo democrático. E você é o responsável por isto tudo, quer queira ou não. Não quer ser criticado? Então faça a coisa corretamente.

Se eu fosse o Chico Galindo miraria no exemplo do economista e ex-deputado Delfim Netto. Como se sabe, Delfim foi um dos mais assíduos colaboradores da ditadura militar de 1964, sendo ministro da Fazenda no chamado “anos de chumbo”, entre 1967 e 1974. Depois foi ministro da Agricultura e do Planejamento até acabar o regime.

Contudo foi como ministro da Fazenda, durante o período de maior repressão política, que Delfim Netto se tornou alvo preferido dos humoristas que o criticavam sem dó. Aliás, era por meio das charges, caricaturas e outras formas de humor que mais se criticavam o regime. Mas Delfim nem por isso acionava o SNI, nem o DOI-CODI, ou o CCC, ou a Operação Bandeirantes, para reprimir os humoristas. Ao contrário!

Sabe o que o Delfim Netto fazia, Chico Galindo? Colecionava as tiras publicadas em jornais e revistas e se divertia com as críticas. Inteligente e perspicaz, Delfim entendia as críticas via humor como um termômetro das ruas.

Talvez você precise um pouco mais de humor e desconfiômetro para  enxergar no Fred um crítico honesto e que seu texto reflete um pouco o clamor das ruas, sem a falsidade dos muitos que o cercam, Chico. Talvez se você, meu prezado Chico, olhasse para fora das cercanias do seu efêmero poder, longe de assessores incompetentes e bajuladores de plantão, veria que a nossa Cuiabá está triste, está descuidada e precisa voltar a sorrir.

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