quinta-feira, 5 de julho de 2012

CASO TONI: Organismos nacionais e internacionais recebem denúncia contra o governo de Mato Grosso




O governo de Mato Grosso foi denunciado, nesta quinta-feira (5), por 25 entidades do movimento social e sindical brasileiro em organismos nacionais e internacionais. O motivo foi a absolvição, em inquérito administrativo da Polícia Militar do Estado, dos dois policiais que participaram do assassinato do estudante africano Toni Bernardo da Silva, no dia 22 de setembro.

Receberam a denúncia: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), a Anistia Internacional, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Ministério da Justiça, o Movimento Nacional de Direitos Humanos, as Comissões de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Federal e do Senado da República, a Secretaria de Promoção de Políticas de Igualdade Racial da Presidência da República e sua Ouvidoria, e os Ministérios das Relações Exteriores e da Educação. Estes dois ministérios foram notificados porque Toni estudava no Brasil por meio de convênio tendo os dois órgãos como signatários.

Em todos os organismos, a comissão que representou as entidades, foi muito bem recepcionada e angariou a promessa de que a denúncia será encaminhada para análise em suas respectivas instâncias. Na sede da OEA a comissão foi informada que a denúncia teria que ser formulada diretamente na página da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (http://www.oas.org/es/cidh/), com sede em Washington, Estados Unidos, o que já foi providenciado.

Na Ouvidoria da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, o ouvidor Carlos Alberto Souza Silva e Junior, informou que será enviado ainda nesta sexta-feira (6) um ofício à Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso e à Corregedoria da Polícia Militar do Estado, solicitando a revisão da decisão.

Os representantes das entidades entregaram aos organismos um documento intitulado “A impunidade e a cumplicidade com um assassinato”, no qual denunciam a decisão do Comando Geral da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso de inocentar, em inquérito administrativo, os policiais Higor Marcell Mendes Montenegro e Wesley Fagundes Pereira, e considera que a “posição da PM de Mato Grosso e, por extensão, do governo do Estado, gera a impunidade que estimula outros atos de violência policial, como o verificado recentemente contra dois turistas argentinos que foram violentamente espancados por dois policiais militares a paisana dentro de uma casa noturna na capital mato-grossense”.

Enfatiza ainda que esses “episódios, por envolverem estrangeiros, ganharam notoriedade, mas sabe-se que diariamente cidadãos mato-grossenses têm sido vítimas de uma polícia truculenta e despreparada. Esses crimes, que vão de prisões arbitrárias, forja de provas com ‘plantações’, a torturas e assassinatos, permanecem impunes devido ao corporativismo nefasto, como o manifestado no resultado do inquérito administrativo da PM, e pelo poder ameaçador e intimidador dos policiais e seus comandados”.
 
“Por esta razão”, prossegue o documento, “entendemos que, com a decisão, o governo do Estado de Mato Grosso não apenas inocenta os policiais, como abona atitudes, estimula a impunidade e passa a ser flagrantemente cúmplice com os crimes que seus policiais cometem cotidianamente”.

Depois de relatar desde o inquérito da Polícia Civil, passando pela denúncia do Ministério Público e a decisão da Justiça de acatar a tipificação do crime como lesão corporal grave seguida de morte, o que permite que os acusados não sejam levados a júri popular, o documento denuncia que os policiais voltaram a trabalhar nas ruas de Cuiabá, atuando na “segurança da população”. “Por isto indagamos: que tipo de segurança agentes públicos garantirão à população diante da concessão por seus comandados e com a conivência do governo de Mato Grosso estão isentos para espancar e matar cidadãos?”, diz o texto.

“Diante do exposto, solicitamos que os organismos acompanhem assiduamente o caso, cobrando do governo de Mato Grosso explicações e exigindo a revisão do inquérito administrativo da Polícia Militar, que fatalmente irá influenciar no julgamento a favor dos acusados”, diz o documento. E finaliza: “Solicitamos ainda que diante de uma eventual recusa do governo de Mato Grosso de reparar a atitude no mínimo vergonhosa de sua Polícia Militar, analisem a possibilidade de pedir a condenação nos fóruns internacionais e nacionais por sua conivência e cumplicidade com as agressões aos Direitos Humanos”.

Assinaram a denúncia:

- União dos Negros pela Igualdade do Distrito Federal (Unegro-DF)
- Grupo Tortura Nunca Mais
- União Brasileira de Mulheres (UBM)
- Movimento Negro Unificado (MNU)
- Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) do Distrito Federal
- União dos Negros pela Igualdade de Mato Grosso (Unegro-MT)
- Grupo de União e Consciência Negra de Mato Grosso
- Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial de Mato Grosso (Cojira-MT)
- Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Distrito Federal (Cojira-DF)
- União dos Negros pela Igualdade de Sergipe (Unegro-SE)
- Instituto de Mulheres Negras (Imune)
- Movimento de Inteligência Negra (MIN)
- Centro Nacional de Cidadania Negra
- Federação de Umbanda e Candomblé de Mato Grosso
- Associação Mato-grossense dos Portadores de Anemia Falciforme
- Federação das Associações Quilombolas de Mato Grosso
- Instituto de Formação, Estudo e Pesquisa de Mato Grosso
- Centro de Organização e Defesa da Criança e Adolescente
- Instituto das Tradições de Cultura Afro-brasileira
- Instituto Afro Barra do Bugres (MT)
- Associação dos Filhos e Amigos de Vila Bela da Santíssima Trindade (MT)
- Centro de Educação e Cultura Popular de Taguatinga
- União dos Negros pela Igualdade de Pernambuco (Unegro-PE)
- Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar em Estabelecimentos de Ensino do Distrito Federal


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