sábado, 25 de agosto de 2012

Um mês sem o Brother

Brasília perdeu um sorriso e ganhou uma estrela*

 “Hoje Brasília ficou mais sem graça, faltando um sorriso, faltando uma alegria em especial, um samba maroto, um pandeiro tocado por um bom malandro carioca. Mas hoje Brasília ganha uma linda estrela...”
(Pedro Akil, filho do Brother)

É possível resumir o Brother em uma única palavra: alegria. Foi assim que de imediato o defini ao conhecê-lo certa noite no final de 2009, no antigo Armazém do Ferreira, em Águas Claras. Já havia ouvido muito falar do Brother por meio de amigos comuns: Serginho, Jaqueline e outros. Afinal ele era meu camarada do PC do B, meu companheiro da Unegro e meu colega da Cojira, entidade às quais emprestou parte de sua vida. Um dia, se não me engano no Carnaval de 79 ou 80, vim de Goiânia e sai pelo Pacotão, sua outra paixão. Com certeza ele estava do meu lado e já era meu Brother. Sim, porque Wilson Miranda Santos era daqueles que você conhece e tem a sensação de que já são amigos de décadas.
 
Quando junto com Sionei Leão visitamos o Brother no domingo, quatro dias antes de sua morte, senti que mesmo muito debilitado e sofrendo horrores com dores e desconfortos provocados pelo estado terminal, havia ali a sua alegria de sempre. O Brother morreu com uma dignidade impressionante. Estava cansado, sim. Tive a sensação de que não desejava mais continuar lutando contra um destino àquela altura já traçado pela terrível enfermidade.

Mesmo assim, naquela manhã do dia 25 de julho, uma quarta-feira, a sua companheira e amiga de sempre, Marisol, mães de seus dois lindos filhos, nutria uma esperança de vida ao levá-lo para uma terapia espiritual no Gama. No retorno, dentro do carro, extremamente fraco, reuniu forças para fazer um carinho em Odara, sua filha. Foi uma despedida.

Ao chegarem em casa e ser retirado do carro para a cadeira de rodas, Brother pediu um copo d’água. Instantes depois foi conduzido para o quarto. Como sempre fazia, Marisol o pegou no colo para transportá-lo da cadeira de rodas para a cama. Sentiu a cabeça dele pender levemente para o lado. “Adormeceu. Está cansado”, imaginou ela, como ocorria sempre depois dessas estafantes saídas de casa. Imediatamente Marisol pressentiu uma diferença no peso do corpo inerte. Eram nove horas da manhã.

Os amigos que acompanharam mais de perto o seu calvário (eu confesso que não pude tanto) não tiveram dúvidas: o Brother descansou. De fato, para ele, para a família, para os amigos mais íntimos, havia cansaço, ainda que envolto em muita esperança. Óbvio: a esperança é a última que morre. Não era difícil sentir, no entanto, que o Brother havia perdido um pouco dela e preparava seu espírito para ir sambar em outras dimensões deste nosso mundo e levar sua alegria para outras almas, de desalmados ou não, que transitam por todos os cantos do Universo.

Marisol, angolana de Luanda, jornalista como ele, se lembra de quando se conheceram. “O Brother é uma eterna alegria”, define o companheiro com quem se casou em 1991. Tiveram Pedro Akil e Preta Odara, lindamente cópias quase perfeitas do pai e da mãe. A convivência marital durou seis anos, mas a amizade ficou para sempre. “Éramos mais que amigos; éramos irmãos!”, exclama Marisol.

Wilson Miranda Santos faria 61 anos no próximo dia 20 de outubro. Carioca do Borel, veio para Brasília no início dos anos 70 com o casal Ulisses, advogado, e Enide, professora, que o adotou quando ele tinha 8 anos. Enide lecionava para o Brother na escola da Tijuca e se impressionou com aquele menino tímido, que não se enturmava com os colegas. Um dia o convidou para passar um final de semana em casa, o que se repetiu outras vezes. Numa redação escolar, o menino apontou como sua família a de Ulisses e Enide. Sensibilizada, a professora foi pedir aos pais biológicos, José e Orcelina, que o deixassem criá-lo.

O “Brother” nasceu na UnB, quando Wilson cursava Jornalismo, onde entrou em 1977. Por ser bom de inglês, ajudava os colegas nesta disciplina e não raro era requisitado por alunos de outras turmas de Jornalismo e até de outros cursos. “Tem um brother aí que entende bem de inglês. É só chamar que ele dá uma força”, informavam os colegas de turma.

* Texto que escrevi para o NR, jornal do Sindicato dos Jornalistas do DF

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