sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Bush: farewell y los sollozos


Parece que minha vida é dizer adeus. Como nos 20 Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada, do poeta Pablo Neruda, que li, reli e finalmente comi, durante uma certa fase pós-adolescente.


Foi-se Neruda. Foi-se um batalhão de gente. Foi-se um país inteiro, o Brasil, e eu apresentei minhas cordiais e sentidas despedidas, que não foram respondidas. Ir embora, ou ficar olhando na direção geral dos que se vão, é minha sina. Já quase que me acostumei, nesta hora em que eu também estou prestes a pegar o chapéu e embarcar..


Hoje, no entanto, despeço-me de George W. Bush citando o Neruda, poeta que ele desconhece (inclusive porque se comunistou logo depois dos poemas que citei), portanto se conhecesse mandaria imediatamente para Guantánamo, mesmo que morto.


Tanto faz. A posição é tudo. Lenço agitado na mão, cais do porto, é comigo. Para tal, ao contrário da maior parte das pessoas, digo meu adeus citando trecho de um poema de Neruda, que já foi de enorme importância para mim. Assim caminhava a juventude.


“Para que nada nos amarreQue no nos una nada (…)
Em cada puerto una mujer esperaLos marineros besan y se van.Una noche se acuestan com la muerte en el lecho del mar (…)”


Nesta hora de partir (passei a outro poema do Neruda), lembro e eternizo o que for possível eternizar nas “internets” algumas das frases presidenciais que ganharam o termo de “bushismos”, ainda não dicionarizado, nem em nova nem em velha ortografia, mas que um dia o serão. Os dicionários brasileiros revistos são vaquinhas danadas para dar dinheiro.
Serás e és lembrado, “Dubya”, como lembrados são Carlitos, Buster Keaton e o Gordo e o Magro, com a única diferença que eles, sem armas, de destruição em massa ou pequenas parcelas, nos mataram, e nos matam, de rir. Ainda riremos de Vossa Senhoria.


Vai, vai, vai, disse o pássaro. Mas aí estou citando outro poeta, o Eliot, o que só complica as coisas. Para mim, para você, para o eventualíssimo leitor.

Segue um punhado de meus “bushismos” prediletos.
*“Eu acho que a guerra é um lugar perigoso.”
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“Vai levar algum tempo para restaurarmos o caos.”
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“Nossos inimigos estão sempre pensando em maneiras de prejudicar nosso país. Nós também.”
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“Eu acho que deveríamos aumentar a idade legal para os jovens terem porte de armas.”
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“Os pobres não são necessariamente assassinos.”
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“A África é uma nação que sofre de doenças incríveis.”
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“Um orçamento tem muitas linhas, muitas palavras, muitas páginas, muitos números.”
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“Há que se admitir: em minhas frases vou onde nenhum homem foi antes.”
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“Aos maus alunos, eu digo: vocês também podem chegar à presidência de nosso país.”
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“Uma criança que aprendeu a ler e escrever pode perfeitamente passar num teste de alfabetização.”
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“Sei que o ser humano e o peixe conseguem conviver em paz.”
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“Ouvi dizer que há rumores nas internets.”
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Cato uma ameaça de lágrima no canto do olho, e, como os cafajestes, digo do cais em que vivo: “Valeu, companheiro. Pode deixar que Obama completará sua missão direitinho e garanto que vai acabar encontrando as danadas das Armas de Destruição em Massa do Iraque. Mesmo que isso doa à Sua Senhoria.”


Confere, Obama?
Com o senhor, já que idéias ainda não foram manifestadas, a palavra.


Ivan Lessa/Colunista da BBC Brasil

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