Guia prático para brancos sobre racismo
Por Ademário Costa*
O que me motiva a escrever novamente é a reação das pessoas, que se sentiram ofendidas com o título do texto “Só podiam ser brancos e ricos”, atribuindo a ele um conteúdo racista.
Este tipo de reação é fruto da forma em que se estrutura o racismo na sociedade brasileira.
No Brasil a cor da pele e os traços físicos constituem componentes determinantes do posicionamento econômico e social dos indivíduos.
A naturalidade com que se associa a condição de ser branco com o sucesso profissional, melhor renda e localização social, exime esta parte da população de se envergonhar de sua condição de maioria ideológica, social, política e econômica — mesmo sendo minoria populacional.
Do outro lado da moeda os negros são maioria em todas as situações de vulnerabilidade social, nas prisões, nas favelas, na exposição ao crime, entre os que estão fora da escola; mesmo nos estados do Sul, em que somos minoria populacional, estamos super representados entre os mais pobres.
Apesar da naturalização desta situação ela só foi possível graças à política oficial de favorecimento da população branca através de políticas de Estado. Isto se chama racismo institucional.
Através da Bula “Dum Diversas” o Papa Nicolau, autoriza o rei de Portugal colocar indígenas e africanos no trabalho escravo.
Poder este que foi estendido em 1554 ao rei da Espanha; um decreto lei complementar à Constituição de 1824, proibiu a comunidade negra de frequentar a escola, qualquer escola; a lei de terras (1850/ nº601) determinou que as terras só poderiam ser obtidas através de compra.
Enquanto isso, o Exército foi encarregado de combater os quilombos e os imigrantes europeus receberam terras, dinheiros e sementes.
A guerra do Paraguai foi usada para exterminar um milhão de negros; a Lei do Ventre Livre determinou que as crianças nascidas de pais escravizados fossem separadas de suas famílias, surgindo a primeira legião de menores abandonados; a Lei dos Sexagenários desobrigou os senhores de cuidarem dos trabalhadores escravizados ao ficarem velhos e doentes.
Em 28 de junho de 1890, um decreto lei reabriu a política de imigração, direcionada à população europeia e impediu a entrada de africanos e asiáticos.
O objetivo foi utilizar a mão de obra branca e europeia para ocupar os principais postos de trabalho na nascente indústria paulista, impedindo que a população negra ocupasse estes postos e se tornasse uma poderosa classe média.
Pobres brancos foram utilizados para marginalizar os negros.
Estas leis são parte da construção histórica que naturalizou a atribuição de características negativas à comunidade negra, e nos fizeram achar normal o posicionamento de brancos nos melhores espaços.
Assim, o texto anterior rompe com o pacto de silêncio sobre o tema, fazendo um setor da sociedade experimentar uma caracterização com a qual não estão acostumados.
Desprovidos do poder no Brasil, não podemos ser acusados de racistas quando identificamos que o preenchimento das “áreas vips” através de critérios negociais, de proximidade social e de classe, culmina com uma hiper representação da população branca em todos os espaços de poder, bem distante do que realmente representam no conjunto populacional do país.
Mas se apesar disso tudo você acha que sua condição social, econômica ou política se deu única e exclusivamente pelos seus méritos pessoais, não apoia as políticas de reparação ou acha que elas são apenas favores do Estado; se foi contra o PROUNI, cotas raciais para ingresso nas universidades e no serviço público, Bolsa Família, Mais Médicos, elevação do salário mínimo, direitos das domésticas; se não está disposto a abrir mão de seus privilégios e reconhecer as vantagens comparativas inerentes à sua cor de pele, então não tem jeito, gire sua bússola, ou vai continuar sendo racista.
*Ademário Sousa Costa é Cientista Social
Vitrines e Estilingues
Por Manoel Motta
Existe uma tradição na cultura política brasileira em identificar o governo como sendo uma vitrine e a oposição um estilingue. Na democracia fundada no voto popular direto e secreto esses lugares políticos governo e oposição são ocupados segundo o resultado implacável das urnas.
É uma obviedade essa afirmativa, dirão alguns. Nem tanto se observamos a reação do governador eleito de Mato Grosso diante da indicação pela assembleia legislativa de uma ex-secretária de estado e candidata derrotada ao governo para compor o Tribunal de Contas do Estado e que no passado esteve na mira do seu estilingue. Não é segredo para ninguém que a indicada faz parte do rol dos adversários políticos do governador eleito
Goste ou não, o cargo que o eleito pelo voto popular passará a ocupar a partir de janeiro é inevitavelmente e necessariamente o de vitrine. Seus adversários obviamente já começam a sacar seus estilingues e apontar, de forma certeira ou não, para a vitrine. É a boa e velha luta política. Hoje entre nós amparada, ainda bem, pelas regras estabelecidas no estado de direito vigentes desde a promulgação da nova Constituição.
Opositor implacável. Sempre com seu estilingue armado apontado de forma intermitente para os seus alvos preferidos que eram o governo federal e o estadual. Essa sua tática de crítico ferrenho desses governos foi sem dúvida bem sucedida e teve a generosa aceitação da maioria dos eleitores e eleitoras do estado. As urnas, ao mudar seu lugar político por consequência dessa lógica implacável da natureza do poder soberano do voto popular, retira de suas mãos seu poderoso estilingue.
Cabe a assembleia a indicação dessa vaga no conselho do TCE restando aos outros poderes observar se ela está sendo feita segunda as regras estabelecidas. O que nos leva a dizer uma outra obviedade que é a de afirmar que a responsabilidade política da escolha é dos deputados e deputadas. Se esse nome for o da ex-secretária e ex-candidata sua escolha é legitima e em principio deveria ser acatada de forma republicana por seus adversários. Mas sabe-se que as coisas não são bem assim. Existem vulnerabilidades jurídicas no perfil da indicada que pode inviabilizar essa escolha política do legislativo. Não importa essas são as regras do jogo democrático e esses são os caminhos que devem ser percorridos pela cidadania. A sociedade precisa ter confiança de que as regras são observadas.
O fato político, por si mesmo, da indicação da ex-candidata já é revelador dessa mudança. Daqui para frente estilingues e vitrines estão com novos personagens. A mudança está objetivamente efetivada.
Governar sem pelo menos uma razoável maioria no parlamento é uma tarefa árdua. É o que mostra esse primeiro enfrentamento. Será necessário muito dialogo é a outra lição que se pode tirar desse processo. Para o desfecho desse primeiro embate o poder judiciário assumiu um comportamento de poder moderador e o resultado será provavelmente mediado por ele.
Confirmada, ou não, essa indicação ao TCE representa a primeira derrota política do próximo governo na assembleia. É bom observar ainda que isso ocorre antes mesmo dele ocupar seu assento nessa grande vitrine publica que é a gestão do estado.
*Doutor em Educação pela USP, professor da UFMT e Suplente de Senador pelo Mato Grosso
O núcleo da política do mensalão
Por Ademário Costa*
O que me motiva a escrever novamente é a reação das pessoas, que se sentiram ofendidas com o título do texto “Só podiam ser brancos e ricos”, atribuindo a ele um conteúdo racista.
Este tipo de reação é fruto da forma em que se estrutura o racismo na sociedade brasileira.
No Brasil a cor da pele e os traços físicos constituem componentes determinantes do posicionamento econômico e social dos indivíduos.
A naturalidade com que se associa a condição de ser branco com o sucesso profissional, melhor renda e localização social, exime esta parte da população de se envergonhar de sua condição de maioria ideológica, social, política e econômica — mesmo sendo minoria populacional.
Do outro lado da moeda os negros são maioria em todas as situações de vulnerabilidade social, nas prisões, nas favelas, na exposição ao crime, entre os que estão fora da escola; mesmo nos estados do Sul, em que somos minoria populacional, estamos super representados entre os mais pobres.
Apesar da naturalização desta situação ela só foi possível graças à política oficial de favorecimento da população branca através de políticas de Estado. Isto se chama racismo institucional.
Através da Bula “Dum Diversas” o Papa Nicolau, autoriza o rei de Portugal colocar indígenas e africanos no trabalho escravo.
Poder este que foi estendido em 1554 ao rei da Espanha; um decreto lei complementar à Constituição de 1824, proibiu a comunidade negra de frequentar a escola, qualquer escola; a lei de terras (1850/ nº601) determinou que as terras só poderiam ser obtidas através de compra.
Enquanto isso, o Exército foi encarregado de combater os quilombos e os imigrantes europeus receberam terras, dinheiros e sementes.
A guerra do Paraguai foi usada para exterminar um milhão de negros; a Lei do Ventre Livre determinou que as crianças nascidas de pais escravizados fossem separadas de suas famílias, surgindo a primeira legião de menores abandonados; a Lei dos Sexagenários desobrigou os senhores de cuidarem dos trabalhadores escravizados ao ficarem velhos e doentes.
Em 28 de junho de 1890, um decreto lei reabriu a política de imigração, direcionada à população europeia e impediu a entrada de africanos e asiáticos.
O objetivo foi utilizar a mão de obra branca e europeia para ocupar os principais postos de trabalho na nascente indústria paulista, impedindo que a população negra ocupasse estes postos e se tornasse uma poderosa classe média.
Pobres brancos foram utilizados para marginalizar os negros.
Estas leis são parte da construção histórica que naturalizou a atribuição de características negativas à comunidade negra, e nos fizeram achar normal o posicionamento de brancos nos melhores espaços.
Assim, o texto anterior rompe com o pacto de silêncio sobre o tema, fazendo um setor da sociedade experimentar uma caracterização com a qual não estão acostumados.
Desprovidos do poder no Brasil, não podemos ser acusados de racistas quando identificamos que o preenchimento das “áreas vips” através de critérios negociais, de proximidade social e de classe, culmina com uma hiper representação da população branca em todos os espaços de poder, bem distante do que realmente representam no conjunto populacional do país.
Mas se apesar disso tudo você acha que sua condição social, econômica ou política se deu única e exclusivamente pelos seus méritos pessoais, não apoia as políticas de reparação ou acha que elas são apenas favores do Estado; se foi contra o PROUNI, cotas raciais para ingresso nas universidades e no serviço público, Bolsa Família, Mais Médicos, elevação do salário mínimo, direitos das domésticas; se não está disposto a abrir mão de seus privilégios e reconhecer as vantagens comparativas inerentes à sua cor de pele, então não tem jeito, gire sua bússola, ou vai continuar sendo racista.
*Ademário Sousa Costa é Cientista Social
Vitrines e Estilingues
Por Manoel Motta
Existe uma tradição na cultura política brasileira em identificar o governo como sendo uma vitrine e a oposição um estilingue. Na democracia fundada no voto popular direto e secreto esses lugares políticos governo e oposição são ocupados segundo o resultado implacável das urnas.
É uma obviedade essa afirmativa, dirão alguns. Nem tanto se observamos a reação do governador eleito de Mato Grosso diante da indicação pela assembleia legislativa de uma ex-secretária de estado e candidata derrotada ao governo para compor o Tribunal de Contas do Estado e que no passado esteve na mira do seu estilingue. Não é segredo para ninguém que a indicada faz parte do rol dos adversários políticos do governador eleito
Goste ou não, o cargo que o eleito pelo voto popular passará a ocupar a partir de janeiro é inevitavelmente e necessariamente o de vitrine. Seus adversários obviamente já começam a sacar seus estilingues e apontar, de forma certeira ou não, para a vitrine. É a boa e velha luta política. Hoje entre nós amparada, ainda bem, pelas regras estabelecidas no estado de direito vigentes desde a promulgação da nova Constituição.
Opositor implacável. Sempre com seu estilingue armado apontado de forma intermitente para os seus alvos preferidos que eram o governo federal e o estadual. Essa sua tática de crítico ferrenho desses governos foi sem dúvida bem sucedida e teve a generosa aceitação da maioria dos eleitores e eleitoras do estado. As urnas, ao mudar seu lugar político por consequência dessa lógica implacável da natureza do poder soberano do voto popular, retira de suas mãos seu poderoso estilingue.
Cabe a assembleia a indicação dessa vaga no conselho do TCE restando aos outros poderes observar se ela está sendo feita segunda as regras estabelecidas. O que nos leva a dizer uma outra obviedade que é a de afirmar que a responsabilidade política da escolha é dos deputados e deputadas. Se esse nome for o da ex-secretária e ex-candidata sua escolha é legitima e em principio deveria ser acatada de forma republicana por seus adversários. Mas sabe-se que as coisas não são bem assim. Existem vulnerabilidades jurídicas no perfil da indicada que pode inviabilizar essa escolha política do legislativo. Não importa essas são as regras do jogo democrático e esses são os caminhos que devem ser percorridos pela cidadania. A sociedade precisa ter confiança de que as regras são observadas.
O fato político, por si mesmo, da indicação da ex-candidata já é revelador dessa mudança. Daqui para frente estilingues e vitrines estão com novos personagens. A mudança está objetivamente efetivada.
Governar sem pelo menos uma razoável maioria no parlamento é uma tarefa árdua. É o que mostra esse primeiro enfrentamento. Será necessário muito dialogo é a outra lição que se pode tirar desse processo. Para o desfecho desse primeiro embate o poder judiciário assumiu um comportamento de poder moderador e o resultado será provavelmente mediado por ele.
Confirmada, ou não, essa indicação ao TCE representa a primeira derrota política do próximo governo na assembleia. É bom observar ainda que isso ocorre antes mesmo dele ocupar seu assento nessa grande vitrine publica que é a gestão do estado.
*Doutor em Educação pela USP, professor da UFMT e Suplente de Senador pelo Mato Grosso
O núcleo da política do mensalão
Por Paulo Moreira Leite, em seu blog Vamos combinar
A primeira notícia sobre mensalão é que a verdade de uma face só começa a perder credibilidade.
A noção de que se trata do “maior escândalo da história” ficou mais difícil de sustentar depois da revelação de que, ouvidas mais de 300 testemunhas, da acusação e da defesa, não apareceu ninguém para descrever as célebres “compras de voto”, “mesadas” ou outras formas de comércio político que Roberto Jefferson descreveu em junho de 2005.
O mesmo Jefferson, na verdade, deixou de sustentar essa versão em depoimentos posteriores, menos barulhentos e mais consistentes, que prestou à Polícia e a Justiça nos anos seguintes. Num deles, o deputado do PTB refere-se ao mensalão como "criação mental". Disse, explicitamente, que “não envolvia” troca de apoio entre o Planalto e o Congresso e se destinava a financiar a campanha municipal de 2004.
A verdade é que depois do início do julgamento alguns casos se revelaram particularmente humilhantes para a acusação. Estou falando do ex-ministro, ex-deputado e líder sindical bancário Luiz Gushiken. A acusação pede absovição de Gushiken por falta de provas.
Mas durante sete anos Gushiken frequentou os jornais e telejornais como um dos suspeitos. Sua foto de cavanhaque e olhos puxados estava em toda parte, as acusações também. Em 2005, seu depoimento à CPI foi interrompido por comentários maliciosos de parlamentares da oposição, que dificultavam a conclusão de qualquer raciocínio. Parte do plenário espumava de felicidade.
Já se sabia que a acusação tinha decidido indiciar Gushiken em 2007 embora admitisse que só tinha indícios muito fracos para isso. Mas ela foi em frente, com o argumento de que, se não apurasse nada de novo, o acusado seria inocentado. Mas se era assim, por que não fazer o contrário e só indiciar em caso de indícios concretos?
Revelou-se, ontem, no Supremo, um detalhe especialmente cruel. Embora tivesse acesso a documentos oficiais que poderiam ser úteis a Gushiken, a acusação recusou-se a fornecê-los a seus advogados em tempo hábil. Com isso, o réu foi prejudicado no direito de apresentar uma boa defesa. Feio, né?
O fato é que o julgamento tem permitido a apresentação serena de mais de uma versão, interrompendo um ambiente de linchamento que acompanhou o caso desde o início.
E é para voltar ao linchamento que começam a circular novas versões e opiniões sobre o caso, sobre a Justiça brasileira, sobre a impunidade nacional e assim por diante.
O raciocínio é simples: não importa o que for provado nem o que não for provado. Caso os 38 réus não sejam condenados de forma exemplar, quem sabe saindo algemados do tribunal, o país estará desmoralizado, nossa Justiça terá demonstrado, mais uma vez, que só atua a favor da impunidade, que todos queremos pizza e assim por diante.
Parafraseando Napoleão no Egito, tenta-se vender uma empulhação. Como se os 512 anos de nossa história contemplassem os 190 milhões de brasileiros a partir das estátuas de mármore da sede do Supremo em Brasília.
Vamos deixar claro. Ninguém quer a impunidade. Todo mundo sabe que o abuso do poder econômico é um dos principais fatores de atraso de nosso regime democrático. Leva a corrupção e desvia os poderes públicos de seus deveres com a maioria da população.
Não é difícil reparar, porém, numa grande hipocrisia. As mesmas forças que sempre se beneficiaram do poder econômico, da privatização da política e do aluguel dos governos são as primeiras a combater toda tentativa de reforma e de controle, com o argumento de que ameaçam as liberdades exclusivas de quem tem muito patrimônio para gastar em defesa de seus interesses.
Denunciam o mensalão hoje mas fazem o possível para que seja possível criar sistemas semelhantes amanhã. Não por acaso, há dois mensalões com um duplo tratamento. O dos mineiros, que é tucano, já foi desmembrado e ninguém sabe quando será julgado. Já o do PT, que é mais novo, e deveria ceder passagem aos mais velhos, é o que se sabe.
Este ajuda a demonstrar a tese tão cara à defesa de que a dificuldade principal não se encontra no mensalão mas nos interesses políticos que os acusados defendem e representam. Interesses diferentes tem tratamento diferente, concorda?
O principal argumento para o linchamento é provocar uma parcela da elite brasileira em seu ponto fraco – o complexo de inferioridade em relação a países desenvolvidos. O truque é falar que sem uma pena severa nem condenações “exemplares” (exemplo de que mesmo?) vamos confirmar nossa vocação de meia-republica, um regime de bananas, com uma semi-desigualdade entre os cidadãos, onde a população não sabe a diferença entre público e privado.
Coisa de antropólogo colonial em visita a terras de Santa Cruz. Por este raciocínio, num país tropical como o nosso, não se deve perder tempo falando em “prova”, “justiça,” ”fatos”, “testemunhas”. Muito menos em “direitos humanos”, essa coisa que “só serve para bandidos”, não é mesmo? Somos atrasados demais para ter atingido esse ponto. Sofremos de um mal maior, de origem.
O que existe, em nossa pequena aldeia brasileira, é uma “cultura” de país pobre, subdesenvolvido, sem instrução. É ela que a turma do linchamento acredita que precisa ser combatida e vencida. Por isso o julgamento do mensalão não é um “julgamento” nem os réus são apenas “réus.”
São arquétipos. São “símbolos” e não dispensam verdades comprovadas para serem demonstrados.
Mas se é assim, seria melhor chamar o Carl Young em vez de o Ayres Britto, não?
No julgamento de símbolos, basta a linguagem, o verbo, a cultura, os poetas, ou em tempos atuais, a mídia – é com ela que se constroem e se desfazem símbolos e mitos ao longo da história e mesmo nos dias de hoje, não é mesmo?
Dane-se se as provas não correspondem ao que se espera. Para que se preocupar com testemunhas que não repetem o texto mais conveniente?
O que importa é dar uma lição aos selvagens, aos incultos, aos despreparados.
Como se houvessem civilizados. E aqui é preciso refletir um pouco sobre essa visão do Brasil. É muito complexo para um país só.
Qualquer antropólogo que já passou um fim de semana nos Estados Unidos sabe que ali se encontra um dos países mais desiguais do planeta, onde os ricos não pagam impostos, os pobres não têm direito a saúde e as garantias formais da maioria dos assalariados são exemplo do Estado mínimo. A Justiça é uma mercadoria caríssima e as boas universidades estão reservadas para os gênios de qualquer origem e os milionários que podem pagar mensalidades imensas e ainda contribuem com uma minúscula fatia de suas fortunas para garantir um sistema em que o topo garante ingresso para seus filhos e netos – com aplauso de deslumbrados tropicais pelo sistema.
Quem se acha “europeu” poderia abrir as páginas de A Força da Tradição, onde o historiador Arno Meyer descreve a colonização da burguesia revolucionária – da liberdade e da igualdade – pela aristocracia que moderou ímpetos mais generosos e democráticos, chamados fraternos, dos novos tempos.
Fico pensando se os pensadores americanos acordam de manhã falando em sua meia-república depois de pensar na força Tea Party. E os europeus, incapazes de olhar para o horror e a miséria de sua crise contemporânea? Também acham que tem um problema em sua “cultura”?
Tudo isso para dizer que o problema não é cultura, não é passado, mas é a luta do presente.
E aí não é possível deixar de notar uma grande coincidência. Vamos esquecer os banqueiros e publicitários dos “núcleos” operacional e financeiro da denúncia. Vamos para o principal, o “núcleo político.”
Há quatro décadas, José Dirceu foi preso sem julgamento e, mais tarde, iniciou uma longa jornada no exílio e na clandestinidade. Não lhe permitiam circular pelo país nem defender suas ideias em liberdade. O mesmo regime que o perseguia suprimiu eleições, transformou a justiça num simulacro, cassou ministros do Supremo, instalou a censura a imprensa e convocou um admirador de Adolf Hitler, como Filinto Muller, para ser um de seus dirigentes políticos.
Civilizado, não? Meia-república? Ou o país deveria ser transformado numa ditadura porque lideres estudantis, como Dirceu, defendiam um regime como o comunismo cubano?
José Genoíno foi preso e torturado. Queria fazer uma guerrilha da escola maoísta – popular e prolongada. Imagine a farsa do tribunal militar que o condenou – com aqueles oficiais que cobriam o rosto, na foto inesquecível do julgamento da subversiva Dilma Rousseff, mas não deixavam de cumprir o figurino do regime, ilustrado por denuncias fantasiosas, de tom histérico.
Gushiken, a quem não forneceram provas na hora necessária, era do tempo em que a polícia vigiava sindicatos, perseguia dirigentes – achava civilizado dar porrada, desde que não ficassem marcas de choques elétricos.
Esta turma merece mesmo ser chamada de “núcleo político” do caso. Está no centro das coisas de seu tempo. É o centro do átomo.
Ninguém se importa com banqueiros do Rural, vamos combinar. Nem com publicitários. Se forem inocentados, terão direito a um chororô de fingida indignação e estamos conversados.
A questão está nos “políticos”.
Sabe por que? Porque dessa vez “os políticos” já não podem ser silenciados na porrada.
Quatro décadas depois, cidadãos como Genoíno, Dirceu, Gushiken, e seus descendentes políticos, não são conduzidos a tribunais militares. Podem apresentar sua versão, defender seus direitos. Resta saber se serão ouvidos e considerados. Ou se há provas e argumentos para condená-los, sem perseguição política.
Vídeo por vídeo, não há nada contra os réus que se compare a tentativa de suborno que serviu de prova da Operação Satiagraha – anulada pela Justiça. Também não há relação de contribuições a políticos tão clara como a Castelo de Areia, com dezenas de milhões desviados, nome após nome – anulada pela Justiça. Para voltar a um passado um pouco mais distante. Nunca se viu um escândalo tão grande como o impeachment de Collor, com troca de favores e obras públicas registradas em computador – prova anulada pela Justiça.
Desta vez, os réus têm uma chance. É isso que irrita a turma do linchamento. Imagine quantas provas de inocência não sumiram no passado. Quantos depoimentos não foram redigidos e alinhavados pela pancada e pela tortura.
Hoje, os mesmos réus e seus descendentes políticos têm direito a ser ouvidos. Representam. Seu governo tem votos. O partido é o único que população reconhece.
Alguns acusados do núcleo contam com advogados que não cobram menos de R$ 100 000 só pela primeira consulta – sem qualquer compromisso posterior. Pois é. O justiça brasileira continua escandalosamente cara, exclusiva, desigual. É feita para brancos e muito ricos. Mas os bons advogados deixaram de ser monopólio do pessoal de sempre. Tem gente nova no clube. O país não mudou muito. Só um pouquinho.
É isso que a turma do linchamento não suporta.
A noção de que se trata do “maior escândalo da história” ficou mais difícil de sustentar depois da revelação de que, ouvidas mais de 300 testemunhas, da acusação e da defesa, não apareceu ninguém para descrever as célebres “compras de voto”, “mesadas” ou outras formas de comércio político que Roberto Jefferson descreveu em junho de 2005.
O mesmo Jefferson, na verdade, deixou de sustentar essa versão em depoimentos posteriores, menos barulhentos e mais consistentes, que prestou à Polícia e a Justiça nos anos seguintes. Num deles, o deputado do PTB refere-se ao mensalão como "criação mental". Disse, explicitamente, que “não envolvia” troca de apoio entre o Planalto e o Congresso e se destinava a financiar a campanha municipal de 2004.
A verdade é que depois do início do julgamento alguns casos se revelaram particularmente humilhantes para a acusação. Estou falando do ex-ministro, ex-deputado e líder sindical bancário Luiz Gushiken. A acusação pede absovição de Gushiken por falta de provas.
Mas durante sete anos Gushiken frequentou os jornais e telejornais como um dos suspeitos. Sua foto de cavanhaque e olhos puxados estava em toda parte, as acusações também. Em 2005, seu depoimento à CPI foi interrompido por comentários maliciosos de parlamentares da oposição, que dificultavam a conclusão de qualquer raciocínio. Parte do plenário espumava de felicidade.
Já se sabia que a acusação tinha decidido indiciar Gushiken em 2007 embora admitisse que só tinha indícios muito fracos para isso. Mas ela foi em frente, com o argumento de que, se não apurasse nada de novo, o acusado seria inocentado. Mas se era assim, por que não fazer o contrário e só indiciar em caso de indícios concretos?
Revelou-se, ontem, no Supremo, um detalhe especialmente cruel. Embora tivesse acesso a documentos oficiais que poderiam ser úteis a Gushiken, a acusação recusou-se a fornecê-los a seus advogados em tempo hábil. Com isso, o réu foi prejudicado no direito de apresentar uma boa defesa. Feio, né?
O fato é que o julgamento tem permitido a apresentação serena de mais de uma versão, interrompendo um ambiente de linchamento que acompanhou o caso desde o início.
E é para voltar ao linchamento que começam a circular novas versões e opiniões sobre o caso, sobre a Justiça brasileira, sobre a impunidade nacional e assim por diante.
O raciocínio é simples: não importa o que for provado nem o que não for provado. Caso os 38 réus não sejam condenados de forma exemplar, quem sabe saindo algemados do tribunal, o país estará desmoralizado, nossa Justiça terá demonstrado, mais uma vez, que só atua a favor da impunidade, que todos queremos pizza e assim por diante.
Parafraseando Napoleão no Egito, tenta-se vender uma empulhação. Como se os 512 anos de nossa história contemplassem os 190 milhões de brasileiros a partir das estátuas de mármore da sede do Supremo em Brasília.
Vamos deixar claro. Ninguém quer a impunidade. Todo mundo sabe que o abuso do poder econômico é um dos principais fatores de atraso de nosso regime democrático. Leva a corrupção e desvia os poderes públicos de seus deveres com a maioria da população.
Não é difícil reparar, porém, numa grande hipocrisia. As mesmas forças que sempre se beneficiaram do poder econômico, da privatização da política e do aluguel dos governos são as primeiras a combater toda tentativa de reforma e de controle, com o argumento de que ameaçam as liberdades exclusivas de quem tem muito patrimônio para gastar em defesa de seus interesses.
Denunciam o mensalão hoje mas fazem o possível para que seja possível criar sistemas semelhantes amanhã. Não por acaso, há dois mensalões com um duplo tratamento. O dos mineiros, que é tucano, já foi desmembrado e ninguém sabe quando será julgado. Já o do PT, que é mais novo, e deveria ceder passagem aos mais velhos, é o que se sabe.
Este ajuda a demonstrar a tese tão cara à defesa de que a dificuldade principal não se encontra no mensalão mas nos interesses políticos que os acusados defendem e representam. Interesses diferentes tem tratamento diferente, concorda?
O principal argumento para o linchamento é provocar uma parcela da elite brasileira em seu ponto fraco – o complexo de inferioridade em relação a países desenvolvidos. O truque é falar que sem uma pena severa nem condenações “exemplares” (exemplo de que mesmo?) vamos confirmar nossa vocação de meia-republica, um regime de bananas, com uma semi-desigualdade entre os cidadãos, onde a população não sabe a diferença entre público e privado.
Coisa de antropólogo colonial em visita a terras de Santa Cruz. Por este raciocínio, num país tropical como o nosso, não se deve perder tempo falando em “prova”, “justiça,” ”fatos”, “testemunhas”. Muito menos em “direitos humanos”, essa coisa que “só serve para bandidos”, não é mesmo? Somos atrasados demais para ter atingido esse ponto. Sofremos de um mal maior, de origem.
O que existe, em nossa pequena aldeia brasileira, é uma “cultura” de país pobre, subdesenvolvido, sem instrução. É ela que a turma do linchamento acredita que precisa ser combatida e vencida. Por isso o julgamento do mensalão não é um “julgamento” nem os réus são apenas “réus.”
São arquétipos. São “símbolos” e não dispensam verdades comprovadas para serem demonstrados.
Mas se é assim, seria melhor chamar o Carl Young em vez de o Ayres Britto, não?
No julgamento de símbolos, basta a linguagem, o verbo, a cultura, os poetas, ou em tempos atuais, a mídia – é com ela que se constroem e se desfazem símbolos e mitos ao longo da história e mesmo nos dias de hoje, não é mesmo?
Dane-se se as provas não correspondem ao que se espera. Para que se preocupar com testemunhas que não repetem o texto mais conveniente?
O que importa é dar uma lição aos selvagens, aos incultos, aos despreparados.
Como se houvessem civilizados. E aqui é preciso refletir um pouco sobre essa visão do Brasil. É muito complexo para um país só.
Qualquer antropólogo que já passou um fim de semana nos Estados Unidos sabe que ali se encontra um dos países mais desiguais do planeta, onde os ricos não pagam impostos, os pobres não têm direito a saúde e as garantias formais da maioria dos assalariados são exemplo do Estado mínimo. A Justiça é uma mercadoria caríssima e as boas universidades estão reservadas para os gênios de qualquer origem e os milionários que podem pagar mensalidades imensas e ainda contribuem com uma minúscula fatia de suas fortunas para garantir um sistema em que o topo garante ingresso para seus filhos e netos – com aplauso de deslumbrados tropicais pelo sistema.
Quem se acha “europeu” poderia abrir as páginas de A Força da Tradição, onde o historiador Arno Meyer descreve a colonização da burguesia revolucionária – da liberdade e da igualdade – pela aristocracia que moderou ímpetos mais generosos e democráticos, chamados fraternos, dos novos tempos.
Fico pensando se os pensadores americanos acordam de manhã falando em sua meia-república depois de pensar na força Tea Party. E os europeus, incapazes de olhar para o horror e a miséria de sua crise contemporânea? Também acham que tem um problema em sua “cultura”?
Tudo isso para dizer que o problema não é cultura, não é passado, mas é a luta do presente.
E aí não é possível deixar de notar uma grande coincidência. Vamos esquecer os banqueiros e publicitários dos “núcleos” operacional e financeiro da denúncia. Vamos para o principal, o “núcleo político.”
Há quatro décadas, José Dirceu foi preso sem julgamento e, mais tarde, iniciou uma longa jornada no exílio e na clandestinidade. Não lhe permitiam circular pelo país nem defender suas ideias em liberdade. O mesmo regime que o perseguia suprimiu eleições, transformou a justiça num simulacro, cassou ministros do Supremo, instalou a censura a imprensa e convocou um admirador de Adolf Hitler, como Filinto Muller, para ser um de seus dirigentes políticos.
Civilizado, não? Meia-república? Ou o país deveria ser transformado numa ditadura porque lideres estudantis, como Dirceu, defendiam um regime como o comunismo cubano?
José Genoíno foi preso e torturado. Queria fazer uma guerrilha da escola maoísta – popular e prolongada. Imagine a farsa do tribunal militar que o condenou – com aqueles oficiais que cobriam o rosto, na foto inesquecível do julgamento da subversiva Dilma Rousseff, mas não deixavam de cumprir o figurino do regime, ilustrado por denuncias fantasiosas, de tom histérico.
Gushiken, a quem não forneceram provas na hora necessária, era do tempo em que a polícia vigiava sindicatos, perseguia dirigentes – achava civilizado dar porrada, desde que não ficassem marcas de choques elétricos.
Esta turma merece mesmo ser chamada de “núcleo político” do caso. Está no centro das coisas de seu tempo. É o centro do átomo.
Ninguém se importa com banqueiros do Rural, vamos combinar. Nem com publicitários. Se forem inocentados, terão direito a um chororô de fingida indignação e estamos conversados.
A questão está nos “políticos”.
Sabe por que? Porque dessa vez “os políticos” já não podem ser silenciados na porrada.
Quatro décadas depois, cidadãos como Genoíno, Dirceu, Gushiken, e seus descendentes políticos, não são conduzidos a tribunais militares. Podem apresentar sua versão, defender seus direitos. Resta saber se serão ouvidos e considerados. Ou se há provas e argumentos para condená-los, sem perseguição política.
Vídeo por vídeo, não há nada contra os réus que se compare a tentativa de suborno que serviu de prova da Operação Satiagraha – anulada pela Justiça. Também não há relação de contribuições a políticos tão clara como a Castelo de Areia, com dezenas de milhões desviados, nome após nome – anulada pela Justiça. Para voltar a um passado um pouco mais distante. Nunca se viu um escândalo tão grande como o impeachment de Collor, com troca de favores e obras públicas registradas em computador – prova anulada pela Justiça.
Desta vez, os réus têm uma chance. É isso que irrita a turma do linchamento. Imagine quantas provas de inocência não sumiram no passado. Quantos depoimentos não foram redigidos e alinhavados pela pancada e pela tortura.
Hoje, os mesmos réus e seus descendentes políticos têm direito a ser ouvidos. Representam. Seu governo tem votos. O partido é o único que população reconhece.
Alguns acusados do núcleo contam com advogados que não cobram menos de R$ 100 000 só pela primeira consulta – sem qualquer compromisso posterior. Pois é. O justiça brasileira continua escandalosamente cara, exclusiva, desigual. É feita para brancos e muito ricos. Mas os bons advogados deixaram de ser monopólio do pessoal de sempre. Tem gente nova no clube. O país não mudou muito. Só um pouquinho.
É isso que a turma do linchamento não suporta.
Por Luis Nassif
Das conversas com o Ministro Ayres Brito, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), do seminário que participei ultimamente sobre liberdade de imprensa, no XI de Agosto, do Brasilianas sobre liberdade de imprensa, de conversas com desembargadores em São Paulo e com advogados em geral, ficou claro para mim uma evidente confusão sobre o conceito de liberdade de imprensa. Confusão que acomete especialmente os juízes de 1a instância.
Vamos separar dois conceitos: o da liberdade de opinião (e de informação) e o da liberdade de imprensa. Na conversa com o Ministro Ayres Brito, surpreendi-me com sua incapacidade de separar os dois conceitos, que são fundamentalmente distintos.
Conforme lhe disse na conversa, considero direito à opinião e à informação um bem público. Liberdade de imprensa é um instrumento para se alcançar o direito à informação – o mais poderoso instrumento, mas, ainda assim, um instrumento.
Não há lógica em considerar ambos sinônimos ou direitos do mesmo nível.
Algumas informações são de interesse público, outras servem a interesses específicos, outras a propósitos empresariais ou políticos, outras até como instrumento de chantagem.
Se cada caso é suscetível de uma análise específica, é evidente que não se pode colocar em um mesmo plano o objetivo (direito à informação e liberdade de opinião) com o meio (imprensa).
A liberdade de manifestação pode se dar em um culto, um comício, um show artístico. Até o advento da Internet, a imprensa era o espaço mais poderoso de disseminação da opinião e da informação. Nem por isso, todos os veículos cumpriam funções públicas.
Mais que isso, com a Internet cessou o monopólio da notícia pelo jornalista. Antes, para qualquer fato se tornar notícia, precisava da intermediação de um jornalista ou jornal. Agora, não mais.
Daí o anacronismo de se considerar como similares os conceitos de liberdade de opinião e liberdade de imprensa. A liberdade de imprensa atende à Constituição quando difunde informações de interesse público; não atende nem desatende quando publica informações meramente supéfluas; atenta contra a Constituição quando difunde informações falsas que impactam a ordem institucional e valores consagrados (como respeito às minorias, aos direitos das mulheres, negros, crianças, deficientes etc.)
Direito à informação
Entendida essa diferença, chega-se à questão do direito à informação.
A legislação pune crimes de opinião, como calúnia, injúria e difamação.
Apesar de haver legislação específica, poucos juízes acolhem denúncias contra desrespeito a direitos difusos – ataques à imagem de mulheres, negros, deficientes etc. Tão pouco se coíbem informações falsas com propósitos políticos.
Além disso, o estilo Murdoch trouxe para o exercício diário do jornalismo global, muito mais do que em qualquer outro período, a participação da notícia nas guerras corporativas. Criam-se personagens públicos (por exemplo, um parajornalista inexpressivo) à custa de enorme publicidade. Conquistado esse espaço, o personagem passa a ser utilizado para jogadas comerciais, beneficiando grupos empresariais específicos. Dentre essas armas, nenhuma é mais letal e mais desrespeitosa aos direitos do cidadão quanto o recurso - fartamente utilizado pela mídia nativa - do assassinato de reputação.
Mercado cartelizado
Quando se fala em liberdade de informação, pensa-se em um mercado competitivo, com todas as informações sendo veiculadas, permitindo à opinião pública formar sua própria opinião. É esse conceito que está na base de todos os estudos sobre liberdade de imprensa.
Quando esse jogo se dá em mercados monopolizados ou cartelizados, é evidente que se compromete o direito constitucional à informação ou à opinião. Compromete a isonomia política (alguns grupos com maior vocalização política do que outros), a isonomia empresarial (no caso de guerras corporativas, com a mídia tomando um dos lados).
Dada a enorme desproporção entre o cidadão (mesmo as empresas não midiáticas) e os grandes grupos de mídia, é papel fundamental da Justiça garantir direitos. Por tal, entenda-se mecanismos rápidos de direito de resposta (prejudicados pelo fim irresponsável da Lei de Imprensa sem a criação de um procedimento alternativo) e penas pecuniárias e criminais severas.
Hoje em dia, as penas pecuniárias beneficiam exclusivamente os grandes grupos: são ínfimas perto do seu poder econômico; mas fatais contra blogs e demais agentes de notícia na Internet.
Quando enveredou em sua parceria com Cachoeira, e passou a emprestar seu poder de fogo para guerras comerciais (alocando-o para o Banco Opportunity), por exemplo, a Editora Abril ordenou a seus homens que fuzilassem a reputação de quem chegasse perto. Ela garantiria advogados e cobriria condenações cíveis. A análise era simples: a morosidade da Justiça e o valor das condenações era infinitamente menor do que o poder de que se via revestida com esses ataques ou para intimidar terceiros ou frente o pagamento recebido dos contratantes.
Cessou essa loucura apenas quando um de seus profissionais foi condenado a três meses de prisão.
Em suma, há um enorme conjunto de jogadas empresariais e políticas em torno do exercício da imprensa. É necessário conhecimento detalhado das formas de atuação e de interesse das empresas jornalísticas e dos próprios blogs afim de se ter capacidade de discernimento para punir os abusos e para preservar a função constitucional.
Principalmente porque a “mercadoria” com que trabalham as empresas jornalísticas é um dos direitos fundamentais da população. Se um bem de consumo não cumpre o que se propõe, a empresa incorre no Código de Defesa do Consumidor. Por sua abrangência, implicações, o produto “notícia” é muito mais relevante do que qualquer bem de consumo. Uma notícia falsificada, um dossiê, pode levar a manifestações psicossociais perigosas, criar conflitos entre instituições.
É todo esse arcabouço que precisa ser analisado por juízes, a fim de aplicar corretamente a lei na hora de garantir o direito à informação e à opinião.
Como a Mídia Gostaria que as Coisas Fossem...
... e Como elas São de Fato:
por Marcos Coimbra
A cobertura de nossa “grande imprensa” da atualidade política gira em torno de três equívocos. Por isso, mais confunde que esclarece.
Os três decorrem da implicância com que olha o governo Dilma Rousseff, o PT e seus dirigentes. A mesma que tinha em relação a Lula quando era presidente.
Há, nessa mídia, quem ache bonito – e até heróico – ser contra o governo. E quem o hostilize apenas por simpatizar com outros partidos. Imagina-se uma espécie de cruzada para combater o “lulopetismo”, o inimigo que inventaram. Alguns até sinceramente acreditam que têm a missão de erradicá-lo.
Não é estranho que exista em jornais, revistas, emissoras de televisão e rádio, e nos portais de internet, quem pense assim, pois o mundo está cheio deles. E seria improvável que os empresários que os controlam fossem procurar funcionários entre quem discorda de suas ideias.
Até aí, nada demais. Jornalismo ideológico continua a ser jornalismo. Desde que bem-feito e enquanto preserve a capacidade de compreender o que acontece e informar o público. O problema da “grande imprensa” é que suas antipatias costumam levá-la a equívocos. Como os três de agora. Vejamos:
O Desespero de Lula
Pode haver suposição mais sem sentido do que a de que Lula esteja “desesperado” com o julgamento do mensalão?
Ele venceu as três últimas eleições presidenciais, tendo tido na última uma vitória extraordinária. Só ele se proporia um desafio do tamanho de eleger Dilma Rousseff.
Hoje, em qualquer pesquisa sobre a eleição de 2014, atinge mais de 70% das intenções de voto, independentemente dos adversários.
Seu governo é considerado o melhor que o Brasil já teve por quase três quartos do eleitorado, em todos os quesitos: economia, atuação social, política externa, ecologia etc. (sem excluir o combate à corrupção).
O mensalão já aconteceu e foi antes que galvanizasse a imagem que possui. Lula tem, portanto, esse conceito depois de passar pelo escândalo. O ex-presidente não tem nenhuma razão para se importar pessoalmente com o julgamento do mensalão. Muito menos para estar “desesperado”.
O que ele parece estar é preocupado com alguns companheiros, pois sabe que existe o risco de que sejam punidos, especialmente se o Supremo Tribunal Federal for pressionado a condená-los. Solidarizar-se com eles – e fazer o possível para evitar injustiças – não revela qualquer “desespero”.
A Batalha Paulista
Não haverá um “enfrentamento decisivo” na eleição para prefeito de São Paulo. Nada vai mudar, a não ser se a gestão local, se José Serra, ou Fernando Haddad, ou Gabriel Chalita sair vitorioso.
Como a “grande imprensa” está convencida de que José Serra vai ganhar – o que pode ser tudo, menos certo -, a eleição está sendo transformada em um “teste” para Lula, o PT e o governo Dilma. Ou seja, quem “nacionaliza”a disputa é a mídia. Apenas porque acha que Haddad vai perder. Se Serra vencer, o PSDB não aumenta as chances de derrotar Dilma (ou Lula) em 2014. Caso contrário, terá sua merecida aposentadoria. O melhor que os tucanos podem tirar da eleição paulista é a confirmação da candidatura de Aécio Neves.
Quanto ao PT e ao PMDB, vencendo ou perdendo, saem renovados. No médio e no longo prazo, ganham. Por enquanto, a mídia está feliz. Cada pesquisa em que Haddad se sai mal é motivo de júbilo, às vezes escancarado. Quando subir, veremos o que vai dizer.
É a Economia, Estúpido
Sempre que pode, essa mídia repete reverentemente a trivialidade que consagrou James Carville, o marqueteiro que cuidou da campanha à reeleição de Bill Clinton.
Lá, naquele momento, foi uma frase boa.
Aqui, não passa de um mantra usado para desmerecer o apoio popular que Lula teve e Dilma tem. Com ela, pretende-se dizer que “a economia é tudo”. Que, em outras palavras, a população, especialmente os pobres, pensa com o bolso. Que gosta de Lula e Dilma por estar de barriga cheia.
Com base nesse equívoco, torce para que a “crise internacional”ponha tudo a perder. Mas se engana. É só porque não compreende o País que acha que a economia é a origem, única ou mais importante, da popularidade dos governos petistas.
Nos últimos meses, a avaliação de Dilma tem subido, apesar de aumentarem as preocupações com a inflação, o emprego e o consumo. E nada indica que cairá se atravessarmos dificuldade no futuro próximo.
Lula não está desesperado com o julgamento do mensalão. Se Serra for prefeito de São Paulo, nada vai mudar na eleição de 2014. As pessoas gostam de Dilma por muitas e variadas razões, o que permite imaginar que continuarão a admirá-la mesmo se tiverem de adiar a compra de uma televisão.
Pode ser chato para quem não simpatiza com o PT, mas é assim que as coisas são.
Verdades incômodas sobre o mensalão
Por Paulo Moreira Leite, em seu blog
O leitor que tiver paciência de ler esta nota até o fim terá elementos melhores para julgar o debate envolvendo Lula e Gilmar Mendes.
Escrevi em nota anterior que o pano de fundo deste conflito envolve o ambiente político em torno do mensalão.
Uma das partes tem interesses em politizar o debate no ponto máximo. A outra tem esperança de convencer os ministros a apoiar-se em argumentos de natureza técnico, no exame das provas.
A leitura do relatório do delegado da Polícia Federal Luiz Flávio Zampronha, disponível na internet, é rico em detalhes e bastante completo na abordagem.
Só para o leitor ter uma ideia da radicalização da situação. Tratado pela imprensa, o relatório já foi exibido como prova definitiva da existência do mensalão. Também foi apontado como prova do contrário.
Em suas conclusões, o relatório mostra que se o PT não pode estar feliz com as denúncias apuradas, a oposição não tem o direito de festejar por antecipação.
É por isso que o julgamento é aguardado com tensão. Todo mundo espera um proveito político mas ninguém sabe o que pode acontecer.
Ninguém quer prestar atenção ao relatório.
Zampronha juntou os fios dos empréstimos bancários e dos contratos de publicidade do Banco do Brasil e concluiu que houve sim desvio de dinheiro público para pagar os compromissos assumidos pelo PT. Os dados estão lá.
O PT pode alegar, corretamente, que o mensalão de Delúbio Soares é igual ao mensalão mineiro e até pode dizer que o esquema dos tucanos mineiros está melhor demonstrado. Tudo isso é verdade. Mas a culpa de Marcos Valério em Minas pode até ajudar a denúncia em seu devido lugar. Mostra que o esquema do PT tinha antecedentes.
Mas nada disso ajuda a demonstrar que ele era inocente quando se juntou ao PT.
Pelo relatório, petistas e não petistas que deixaram sua assinatura em algum documento oficial terão dificuldades muito grandes para demonstrar que são inocentes.
O problema, para a oposição, é que essas conclusões estão longe de demonstrar a culpa dos 38 réus. Pior ainda. Para quem transformou José Dirceu no cérebro e gênio do mal, a investigação da Polícia Federal é uma decepção.
Evitando mencionar hipóteses que estão na mente de muitas pessoas, mas não podem ser comprovadas com fatos, o relatório não apresenta uma linha contra Dirceu.
Embora Zampronha não dê entrevistas, é fácil concluir o que aconteceu.
A culpa de Dirceu não foi registrada pela equipe de policiais encarregada de apurar os fatos capazes de incriminá-lo. Não há provas contra ele.
Não há uma denúncia nem uma testemunha. O próprio Roberto Jefferson, que fez acusações políticas a Dirceu em 2005, não apontou um caso específico nem uma situação precisa. Aliás: quem voltar à entrevista de Jefferson a Renata Lo Prete, na Folha, irá encontrar palavras em que ele testemunha a reação de Dirceu de crítica ao próprio Delúbio. Jefferson contou a Lo Prete que, ao ser informado do que ocorria, Dirceu até deu socos na mesa. (Ele também disse que Lula chorou).
Puro teatro maquiavélico, você pode dizer. Coisa de tem treinados profissionais do crime. São todos farsantes, mentirosos…Esses políticos são todos iguais. Quem sabe?
Falando para os autos, Jefferson também não falou sobre o esquema de “compra de votos no Congresso” nem de “compra de consciências”. Jefferson repete nos vários depoimentos que deu à Polícia que jamais votou em projetos do governo em troca de dinheiro. Lembra que ele e sua bancada estavam de acordo com as propostas de Lula. Dá exemplos.
Fala que o problema é que os petistas combinaram e não entregaram recursos para a campanha de 2004.
Jefferson, neste aspecto, concorda com aquilo que Delúbio sempre disse. Era dinheiro de campanha.
Já estou ouvindo um grito do leitor do outro lado: “P…que p…!”
“Não é possível!”
“O PML enlouqueceu de vez!”
“Não percebe que a Polícia Federal faz o que o governo quer?”
Todos nós temos direito a uma opinião sobre o caso e seus protagonistas mas, acionada pela Procuradoria Geral da República, aquela que denunciou o governo pela montagem de uma “organização criminosa”, a Polícia Federal chegou a outro caminho.
Não demonstra o “mensalão”. Tampouco aponta para José Dirceu. Mas incrimina quem foi apanhado numa operação que implicava em desvio de recursos públicos. Não é pouca coisa, num país de altíssima impunidade. Mas não irá agradar quem acredita que estava tudo provado e demonstrado sobre a “quadrilha criminosa.”
Isso quer dizer que o Supremo irá seguir as recomendações da Polícia Federal? Nem de longe. Cada ministro tem o direito a suas convicções e próprias conclusões. O relatório da Polícia Federal pode inspirar alguns ministros, a maioria, a minoria, ou nenhum. Com certeza não será um julgamento unânime como a votação sobre cotas.
Não é inteiramente bom para nenhum lado. Nem totalmente ruim.
Gata escondida com rabo de fora
Por Leila Cordeiro, do Direto da Redação
Ultimamente tenho tido a sensação de que a internet virou uma grande vitrine permissiva, um vasto espaço para exibicionistas e pessoas decadentes que querem a todo custo ter seus cinco minutos de fama, nem que tenham com isso que expor a própria reputação.
Não é de hoje que lemos notícias sobre “vazamento” de fotos e informações de “estrelas” que querem preservar sua “privacidade” culpando a web por seus desmandos e desvarios. Não bastassem as reclamações sobre os paparazzi que vivem “importunando” os chamados famosos e celebridades de ocasião que, sem querer, deixam escapar através de suas assessorias onde e com quem estarão numa determinada hora e lugar.
E tudo isso para preservar a privacidade! Ora, por favor, quem quer viver uma vida discreta sabe muito bem o que fazer e não ficar colocando na internet fotos íntimas nos twitters da vida como fez recentemente a apresentadora da Rede TV, Sonia Abrão que, do alto dos seus 50 e tantos anos, postou uma foto de maiô em frente ao espelho, apenas como “experiência” porque iria fazer um ensaio fotográfico profissional ou coisa parecida.
O fato é que os escândalos acontecem e as “vítimas” ingenuamente nunca sabem o porquê do vazamento e vão para a mídia dizer que se sentem aviltadas e invadidas pela violência da internet, uma terra sem dono e sem lei, segundo as pretensas atingidas.
E foi assim com a mais nova “vítima inocente” , a atriz global Carolina Dickman que teve 36 fotos suas em poses sensuais, nua ou quase, divulgadas na web por um “chantagista”. A história, todo mundo já está careca de saber, pois tem sido o assunto do momento, mas faltaram algumas perguntas que não foram feitas ao Sr. Advogado que está cuidando de abafar o caso e rapidamente arranjou desculpas para o episódio da castigada nudez de sua cliente.
Por exemplo. Como uma pessoa famosa como Carolina Dickman, pretensamente bem informada, não teve o cuidado de colocar as fotos num dispositivo de armazenamento de dados, antes de levar o computador para um conserto. Se ela não sabia como fazer isso, pelo menos o marido que é diretor de TV deveria ter bastante intimidade com o equipamento para ajudar a esposa a manter sua privacidade intacta.
Além disso, se ela foi mesmo vítima de chantagem, porque esperou mais de um mês para denunciar à polícia ou vir a público para contar a história, em vez de recorrer à ajuda de “especialistas’ em segurança, como informou a coluna de hoje de Lauro Jardim, Radar Online, dizendo que : “O homem que tomou as rédeas da negociação paralela foi Rodrigo Pimentel, o comentarista de segurança da própria Globo e ex-policial do Bope que inspirou o personagem do capitão Nascimento do filme Tropa de Elite.” Tudo muito espetacular, cheirando a superprodução de novela, não é mesmo?
Diz ainda a nota que o tal Pimentel bem que tentou negociar com o chantagista mas não deu certo. Pelo visto, foi só mesmo no cinema que o Capitão Nascimento conseguiu se dar bem na luta contra os bandidos. O homem que inspirou o polêmico e famoso personagem deixou a desejar , até porque histórias de ficção policialescas são fáceis de serem resolvidas porque dependem só do roteiro do filme , na vida real até mesmo a polícia pode ser enganada pela vaidade e falta de responsabilidade das pessoas envolvidas numa “chantagem” de internet.
Falta de coragem e perdas de oportunidades
Por Igor Felippe Santos
“Uma balsa não tem popa nem proa. É quadrada e, às vezes, navega de lado, gira sobre si mesma imperceptivelmente, e como não há pontos de referência, não se sabe se avança ou retrocede”
O escritor Gabriel García Márquez descreve assim no livro “Relato de um náufrago” o drama de um homem que ficou 10 dias à deriva numa balsa, sem comida nem bebida, que acabou virando herói da pátria, mas depois foi esquecido para sempre.
Apesar de se empanturrar com números e números de pesquisa de opinião, o governo Dilma Rousseff parece navegar de lado ou dar voltas em torno de si mesmo sobre uma balsa, levado pelo movimento do mar e sem força para fazer o Brasil avançar com firmeza.
O governo mantém o procedimento de “convivência pacífica” com os inimigos das mudanças progressistas e, assim, não demonstra coragem nem iniciativa política de aproveitar oportunidades que poderiam minar esses setores, alterar a correlação de forças e abrir o caminho para transformações profundas.
O lançamento do livro “A Privataria Tucana”, do repórter Amaury Ribeiro Jr, por exemplo, tirou a poeira do debate sobre as privatizações e do crime de lesa pátria, nas palavras do jurista Fábio Konder Comparato, cometido no governo FHC.
As denúncias criaram um clima de indignação em setores importantes na sociedade, mas a covardia do governo – que enquadrou o presidente da Câmara, Marco Maia, e brecou a instalação da CPI da Privataria Tucana, que tinha assinaturas necessárias para a instalação – foi um banho de água fria.
A investigação das privatizações do FHC pode ter um papel pedagógico e politizar o povo brasileiro com a defesa de um novo projeto para o país, colocando a sociedade em movimento para fazer justiça, julgar e prender todos os responsáveis pelos roubos e retomar as empresas privatizadas, enterrando o neoliberalismo e recompondo o poder do Estado.
Além disso, o governo poderia aproveitar a insatisfação de setores da indústria de transformação, que reagem ao processo de desindustrialização da economia brasileira, que mobiliza também as centrais sindicais. A crise nacional com a perda de força da indústria é grave.
A participação da indústria no PIB (Produto Interno Bruto) retrocedeu ao patamar de 1956, com os 14,6% de 2011. O pico da indústria foi em 1985, quando chegou a 27,2% do PIB. Para reverter essa quadro e apear o poder dos bancos e do capital financeiro, é necessário baixar substancialmente os juros da taxa Selic, controlar o câmbio e renegociar os títulos da dívida pública que consomem anualmente 500 bilhões de reais.
No entanto, o governo lançou mão de um pacote para a indústria com medidas limitadas, baseado em desoneração da folha de pagamento e isenção de impostos (políticas de corte neoliberal), a diminuição dos juros dos bancos públicos e queda da taxa de juros Selic.
Os oligopólios dos meios de comunicação também poderiam ser enfrentados, uma vez que a cada dia que passa aumenta a desmoralização dos jornais, revistas, rádios e TVs controlado pelos setores mais conservadores. O envolvimento de um editor da revista Veja com a rede criminosa do bicheiro Carlinho Cachoeira e do senador Demóstenes Torres, até então grande líder do DEM, é motivo suficiente para que se apresente um marco regulatório dos meios de comunicação.
De que adianta a presidenta Dilma bater recordes de popularidade, tendo um governo avaliado como ótimo ou bom por 64% dos brasileiros, de acordo com pesquisa divulgada nesta semana pelo Datafolha, se não enfrenta os setores conservadores nem faz mudanças profundas na sociedade brasileira?
Ausência das lutas de massas
Enquanto o governo gira sobre si mesmo e não avança, as forças da classe trabalhadora não conseguiram avançar na consolidação de bandeiras unitárias e na organização de lutas de massas, que pudessem enfrentar os interesses da classe dominante e sustentar avanços substanciais.
Se as centrais sindicais, movimentos sociais e organizações estudantis construíram uma grande unidade em 2010, houve de lá pra cá um processo de desarticulação. As bandeiras de lutas que foram construídas nesse período, que poderiam ter força para envolver toda a sociedade brasileira, criar força social e recolocar em movimento a classe trabalhadora, perderam força.
A luta pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários, que reuniu o conjunto das organizações dos trabalhadores, não se converteu em lutas de massas. Sem pressão, dificilmente será votado o projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados define a redução da jornada para 40 horas semanais.
Em vez disso, a discussão sobre a reforma sindical, com foco no imposto sindical, é objeto de maior atenção das centrais sindicais, que estão divididas em relação ao tema. Ou seja, em vez de convergência em torno de bandeiras que coloquem em xeque os interessas da burguesia, as centrais se lançam em uma campanha que, para a sociedade, não passa de uma discussão corporativa.
A bandeira da destinação de 10% do PIB para educação, que faz parte do debate do Plano Nacional de Educação, que tramita no Congresso, envolveu apenas entidades que atuam no setor educacional. Com a aprovação dessa medida, esses recursos seriam destinados para a estrutura das escolas (construção e reforma), pagamento de salário aos professores, melhorar a qualidade do ensino público e ampliar do acesso às universidades.
No campo, os movimentos sociais e os sindicatos de trabalhadores rurais e da agricultura familiar encontraram um denominador comum e construíram uma unidade política não vista nos últimos 10 anos. Existe uma expectativa no sentido de construção de um calendário de lutas comum e a realização de um grande encontro que reúna camponeses, sem terra, pequenos agricultores, indígenas e quilombolas neste ano.
Mesmo assim, o fortalecimento da agricultura familiar e a realização da Reforma Agrária, que dependem da derrota do agronegócio, não contagiam o conjunto da sociedade como mudanças estruturais necessárias para acabar com a pobreza no campo, desconcentrar a terra, gerar renda e empregos nas áreas rurais e produzir alimentos saudáveis sem agrotóxicos.
O desalento com esse quadro aumenta quando olhamos para o nosso país vizinho, a Argentina, onde a presidenta Cristina Kirchner retomou o controle do petróleo e do gás com nacionalização da empresa petroleira espanhola YPF.
Lá parece que o impossível é possível, enquanto aqui há um soterramento das perspectivas de transformações a palmos e palmos de terras no cemitério da realpolitik. Que os ventos que vem das terras argentinas contagiem as organizações da classe trabalhadora brasileira e o governo a colocar em pauta medidas que possam criar condições para a realização de reformas estruturais no Brasil.
* Igor Felippe Santos é jornalista, editor da Página do MST, do conselho político do jornal Brasil de Fato e do Centro de Estudos Barão de Itararé.
Marcelo Silber: Honrando a memória do meu avô
por Marcelo Silber*, especial para o Viomundo
Caros Amigos
Sempre gostei de ouvir histórias, e quando era pequeno, gostava das histórias contadas pelo meu avô materno, Meir Bojmel, meu querido vovô Maurício.
Nascido em Lutz, Polônia, emigrou aos 17 anos para o Brasil e segundo ele não teve uma infância feliz. Sua família era muito pobre, mas não era este o problema.
Ele se queixava da discriminação e do antissemitismo que sentia em sua vida diária (não pode fazer o ginásio por ser judeu) e com a ajuda do cunhado que morava em Formiga, Minas Gerais, emigrou para o Brasil.
Se apaixonou pelo país: “Marcelinho, é o melhor pais do mundo. Povo bacana, clima maravilhoso, oportunidade para todos”. Gostava de política, falava sempre de Getúlio Vargas e que o dia mais importante de sua vida foi quando se naturalizou brasileiro, quando jurou a bandeira no Estádio do Pacaembu em 1942. Herdei do meu querido avô o amor pelo Brasil.
Mas o menino cresceu e começou a perceber que o país tinha algumas coisas esquisitas…
O mito da democracia racial era uma delas.
Milhões de africanos (as) foram escravizados no Brasil por mais de 350 anos. Foram chicoteados, assassinados. Marcados a ferro, desumanizados e trabalharam sob o regime de escravização.
Estamos nos transformando numa sociedade intolerante. Gays são espancados na rua, nordestinos são violentamente ofendidos em redes sociais após um simples jogo de futebol, as nossas mulheres são obrigadas a realizar abortos em clínicas clandestinas com altas taxas de mortalidade.
Todos, principalmente as pessoas que ocupam espaços importantes na nossa sociedade, deveriam sempre se lembrar disso (Lembrando sempre que o candidato derrotado à presidência da República, que teve 44 milhões de votos, ou seja, fatia importantíssima da opinião pública se aliou aos setores mais retrógrados da nossa população, que apóiam explicitamente o preconceito, a intolerância e a discriminação).
Fiquei triste com as manifestações explícitas de antissemitismo que explodiram esta semana, inclusive com piadas jocosas sobre Auschwitz, lugar onde pereceram várias pessoas da minha família. Triste sim, mas, infelizmente, não fiquei surpreso…
Nós judeus, demos ao mundo, a invenção do monoteísmo ético, que produziu três grandes religiões, a saber: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Desempenhamos papel importante na evolução dos dois sistemas econômicos que prevalecem no mundo contemporâneo, o capitalismo e o socialismo, ajudamos a desvendar os mistérios da psique humana e demos ao mundo inúmeros progressos nas artes, ciências e medicina.
Ajudamos a dar contribuições também ao Brasil. Faço minhas as palavras do Presidente Lula:
“Venho de um país que recebeu dezenas de milhares de imigrantes judeus, perseguidos em suas terras de origem pela intolerância étnica, cultural e religiosa. A contribuição que esses imigrantes e seus descendentes deram e continuam dando ao Brasil é extraordinária. Ela está em nossa literatura, com Clarice Lispector e Moacir Scliar; em nossas artes visuais, com Lasar Segall e Carlos Scliar; em nosso cinema, com Leon Hirszman. Ela é ainda mais visível no mundo da ciência e da cultura, na atividade empresarial e na atividade política”.
O site Viomundo é um espaço importante. Cabe a nós fazer dele uma mola propulsora do debate civilizado de idéias e combate a todas as formas de antissemitismo, preconceito, racismo e intolerância, ajudando a fazer do Brasil, como dizia o meu avô, o melhor país do mundo.
* Marcelo Silber é médico pediatra, em São Paulo, e leitor assíduo do Viomundo.
Bruna Surfistinha é cinema de boa qualidade
João Negrão
Os cinemas de Brasília estão lotados nos últimos dias. Desde que estreou na capital da República, o filme Bruna Surfistinha tem arrastado multidões para as salas da cidade. Em sua maioria jovens, esse público tem ido consagrar a grande musa da web da primeira década dos anos 2000, a menina de família classe média de São Paulo que aos 17 anos torna-se prostituta e fica famosa na internet com o seu blog que relata sua experiência com a mesma simplicidade dos diários juvenis de outrora, porém com uma desenvoltura de provocar e excitar. O livro “O doce veneno do escorpião”, no qual é baseado o filme e vendeu mais de 160 mil exemplares desde que foi lançado em 2005, ajudou a construir a fama. Agora a película culmina uma história que mexeu e vem mexendo com a imaginação e os desejos mais doces e sacanas de imberbes e marmanjos.
O filme, de fato encanta e estremece as fantasias do espectador. Este, porém, não é o seu mérito, se há que isto dizer. Para tanto o mercado e a própria internet estão fartos de material talvez a proporcionar mais resultados para quem vá procurar apenas por cenas de sexo. Para início, lá não as tem explicitas. Não é muito menos uma produção no estilo das pornôs-chanchadas da década de 70. Bruna Surfistinha é cinema de boa qualidade, com tudo que um bom filme tem: bom roteiro, boa fotografia, excelente direção e bons atores. Não que Deborah Secco, que interpreta a prostituta, seja lá essas coisas. A direção de Marcus Baldini, no entanto, é tão eficiente que faz dela uma estrela de primeira grandeza. Conta aqui seus atributos físicos e a semelhança com Raquel Pacheco, o nome verdadeiro da protagonista. Mas sua interpretação – há que se reconhecer – é um primor. De resto, as demais atuações seguem a mesma linha. De tirar o chapéu.
Agora não se pode mesmo negar que outro grande atrativo da produção, especialmente para o público em geral, é o escancarar de temas e o revolver de tabus ainda presentes na sociedade em pleno século 21. Por outro lado, o voyeurismo é que fala mais alto. Outro ponto: a curiosidade em torno da vida escolhida pela personagem. Apesar de Bruna-Raquel não ser uma novidade no mundo (aliás, desde que o mundo é mundo e a prostituição é – dizem os entendidos - a profissão mais antiga). Sim, porque garotas de classe média no universo prostituto não é nenhuma novidade. Ganha-se dinheiro vendendo o corpo, isso é fato, embora os custos e efeitos colaterais desse exercício profissional sejam em geral violentos. E não se consta que elas recebam algum adicional de insalubridade e periculosidade. Mas as meninas bem-nascidas estão lá, como a Surfistinha, e em muitos casos não é apenas por causa de grana.
O filme mostra esse ambiente de forma direta, sem meias palavras. Assim como o é a protagonista. “Oi, eu sou a Bruna. Você pode fazer o que quiser comigo”. Assim ela se apresenta aos clientes. E esse é um dos ingredientes que afloram a excitação de machos e fêmeas (o cinema estava lotado delas). Bruna Surfistinha não é uma prostitutazinha qualquer. É bonita de rosto e de corpo. Mas isso é trivial. Sobram dessas por aí. Ela realmente gosta de sexo e se entregar aos seus amantes com uma voracidade impressionante, embora com um ar de adolescente ao se entregar ao namorado num fluxo alucinante de desejo da primeira transa. Cada atendimento seu tem essa substância a mais. Em suma, Raquel-Bruna é uma profissional que trabalha com muito prazer e agrega valor no que vende. Daí talvez o segredo de seu meteórico sucesso.
Tudo, no entanto, não são flores sempre e a decadência chega com o abuso das drogas e a clássica escolha errada de amigos, no caso, amiga, em detrimento de quem realmente o é e ama você. A volta por cima amarra a história e muitas lições para ela e o espectador. Tudo isso contado de forma competente, emoldurada por uma trilha sonora fantástica onde se sobressaem os melhores momentos de Radiohead, para mim uma das melhores bandas inglesas da safra do final do século passado. Aqui é no mínimo curioso, para quem assistiu e se emocionou com “Fake Plastic Trees” embalando Carlinhos e seu amigo no famoso comercial de TV na década de 90, ver agora a mesma canção pontuando os caminhos de Bruna Surfistinha no filme. Mas convenhamos, Baldini acertou em cheio: a letra da música está mais para Raquel do que para o menino no carrossel.
Criação da Sudeco e o sniper do Valtenir Pereira
João Negrão
Um café da manhã que reuniu a maioria dos membros da bancada de Mato Grosso no Congresso Nacional aqui em Brasília, mais exatamente na Secretaria de Desenvolvimento Regional do Centro-Oeste, nesta quinta-feira (03.03), serviu para duas revelações importantes. A primeira, e muito promissora, foi a informação do titular da pasta, Marcelo Dourado, de que a antiga Sudeco (Superintendência de Desenvolvimento do Centro Oeste) está ressuscitada. Dourado usou outra expressão para o anúncio: certidão de nascimento, talvez por desconhecer ou não se lembrar que a autarquia já existiu e foi extinta há exatos 20 anos, no governo Collor de Mello.
A outra revelação partiu do promitente deputado federal Valtenir Pereira e não é nada promissora quanto o é o próprio parlamentar, até que o tempo e seus atos derroguem a percepção que ainda se tem de seu decoro. Não que o parlamentar tenha digo algo novo, tão alvissareiro como o retorno da Sudeco. E junto com ela a criação do Banco de Desenvolvimento do Centro-Oeste, aos moldes de outras instituições financeiras. O banco viria para facilitar o acesso aos recursos do Fundo do Centro-Oeste (FCO) e o Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste (FDCO), entre outras fontes, conforme festejou o secretário junto com os parlamentares mato-grossenses.
Muita felicidade e uma incógnita para Dourado, com pouquíssimo tempo à frente da Secretaria de Desenvolvimento do Centro-Oeste, órgão que vinda com renascimento da Sudeco, e corre o risco de não ser reaproveitado. Mas isto é assunto para mais adiante. Se prevalecer a força política do Partido Socialista Brasileiro (PSB), ao qual pertencem Dourado e Pereira, no Ministério da Integração Regional, ao qual está subordinada a pasta do Secretário e viria ser vinculado o órgãos ressuscitado, é possível que ele se manterá. Por ora nos atemos às novidades no front. Sobre a Sudeco, cujo decreto de criação seria publicado nesta sexta-feira (04.03), é interessante lembrar que este é um pleito não apenas de Mato Grosso, mas também de todos os estados do Centro-Oeste e o Distrito Federal.
Sobre Valtenir Pereira, é lícito registrar que é um homem muito trabalhador. Se brincar é hoje, quantitativamente, o parlamentar mais atuante da bancada da província na Câmara Federal. O problema está domiciliado justamente aqui: a quantidade, ou o seu afã alucinado de mostrar serviço. Como um sniper, sai à caça de alvos, mas sem muita cautela, atira para todos os lados. Como o atirador de Skol, é solitário. Mais que isso, dispensa qualquer companhia.
Mas onde mora aqui a novidade? Para alguns talvez nem tanto, mas se configura com uma freqüência reveladora o comportamento exclusivista do parlamentar, o qual não titubeia colocar seus pares e aliados em “saias-justas”. Um deles foi o próprio Marcelo Dourado, que na semana passada fez um longo tour com Valtenir Pereira pelas terras pantaneiras. Os dois percorreram vários municípios e foram bater com a caravana em duas das mais importantes cidades mato-grossenses, além da capital: Sinop e Rondonópolis. Ocorre que esqueceram de fazer a gentileza de sequer comunicar aos parlamentares representantes daquelas regiões. Resultado: Dourado recebeu puxões de orelhas. Primeiro do deputado Julio Campos (DEM), que, aliás, reclamou em nome de Roberto Donner (PP), cuja base é Sinop. “Estou falando porque ele (Donner) é tímido e não tem coragem de falar. Mas eu tenho. O senhor foi lá na calada da noite e não avisou a ninguém. É um desrespeito. Espero que isso não se repita”, afirmou. Na carona, Wellington Fagundes (PR) reclamou que sequer foi avisado da visita a Rondonópolis, seu domicílio eleitoral.
Indagado sobre o episódio, Valtenir foi peremptório: “Olha, era uma agenda do deputado Valtenir Pereira. Eu que organizei e agendei com o secretário. Não me consta que deveria avisar ninguém”. Pereira, ao que parece, não é muito dado a gentilezas. É praxe na política você convidar seus pares para eventos que você organiza, ainda mais no reduto eleitoral deles. Não se desmerece o esforço do parlamentar socialista e a importância da visitação do secretário Dourado. Ocorre que em se tratando de política – aqui mais que uma ação parlamentar – é bom zelar pela boa vizinhança. Prova disso é que os parlamentares não fizeram muxoxos, situação que por sua vez não pode ser desprezada.
O deputado socialista, porém, não demonstra mesmo tanta preocupação. Mais uma prova foi o próprio café da manhã na já extinta Secretaria de Dourado. O evento foi organizado e as despesas pagas por Pereira, inconfidência do próprio Marcelo Dourado ao discursar na abertura. Sorrisos amarelos de todos os lados. O exemplo de desconsideração veio na organização do desjejum. Pelos ritos e pela atribuição do cargo, quem convoca reunião de bancada é o líder da bancada, no caso Wellington Fagundes. Pereira nunca poderia ter convocado tão encontro sem ao menos comunicar Fagundes, que foi convidado por meio de sua assessoria. O socialista nem se dignou a ligar para o republicano, que, aliás, estava em São Paulo se convalescendo de duas cirurgias – uma no quadril e outra no maxilar. A assessoria do deputado rondonopolitano praticamente implorou para que a reunião acontecesse depois que o parlamentar chegasse. Em vão. Mas Pereira não contava que justamente no dia, Fagundes receberia alta do hospital e compareceria ao evento. Mais sorrisos amarelos.
Pano, rápido!
Na guerra, morrem meninos também
Por: Brizola Neto
Esperei até o final do dia para falar no assunto, porque não queria misturá-lo com as questões eleitorais.
Misturar violência – ou promessas de acabar com ela – e eleições é não apenas mentir, mas explorar demagogicamente o medo e a preocupação das pessoas.
A morte do menino Wesley Andrade, de 11 anos, morto dentro de uma sala de aula do Ciep Rubens Gomes, no subúrbio de Costa Barros.
O pai do menino, num desabafo, disse que seu filho era apenas mais uma estatística. Ele tem razão. E tem razão ao se queixar de que as autoridades públicas não ligam para eles. Talvez possa não ser exato dizer isso do ponto de vista pessoal do governador ou de outras autoridades que, como seres humanos, pais de família, estejam pessoalmente abalados também.
Mas o que diz o pai do menino está correto porque vai além, vai muito mais além.
É uma parte, uma parte importante da sociedade que não liga para eles.
A parte que acha que temos de enfrentar uma “guerra”, onde se deve travar batalhas campais entre os criminosos e a polícia, porque as “vitórias” se contam com alguns cadáveres e trouxas de drogas que, em poucos dias, serão repostos.
A parte que se serva da tragédia para exigir a extirpação “a frio” das favelas como se fossem cânceres e não lugares onde vivem , do jeito que podem, seres humanos e que reclama até, como li agora num comentário do jornal O Globo, que se tenha colocado escolas ali.
A parte apóia a ideia de que a polícia atire sem critério e que sustente o tiroteio, a qualquer preço, se esquecendo de que balas de armas pesadas matam a um, a dois, até a três quilômetros de distancia.
A parte da sociedade que ficou dura de alma e que não consegue ver que esta guerra não é ganha nunca. A parte que prefere culpar Brizola, que exigia critério e prudência em qualquer operação deste tipo. Diziam que isso era proteger bandido e não deixar a polícia subir morro. Será que alguém pode deixar de enxergar que, há 16 anos, a polícia sobre o morro como quer, cada vez mais armada e mais blindada, sem que este morticínio termine.
Afastou-se um comandante da PM, detiveram-se alguns policiais enquanto se aguardam os exames balísticos. Mas é honesto dizer que, independente de sua eventual culpa pessoal, estes homens não foram insuflados pela cultura de “guerra” que parte da sociedade, com a mídia à frente, que martela a guerra martela todos os dias, nas cabeças de todos.
Wesley era um menino e estava numa escola, com tudo para ser uma boa escola, onde poderia aprender a ser um ser humano capaz de discernir entre o certo e o errado. Os que o mataram, policiais ou bandidos, também foram meninos de 11 anos. Uns ou outros não nasceram monstros, nasceram meninos.
Meninos que a sociedade brasileira “esqueceu” de tornar humanos e a quem preferiu lançar, como lenha nova, numa fogueira que não se extinguirá enquanto o fogo for combatido, essecialmente, com mais fogo.
Brizola Neto é deputado federal pelo PDT
Campanha declarada da imprensa contra petistas pode ser ilegal
Por: Eduardo Guimarães, do Blog CidadaniaConfira o trailer:
Sugiro ao leitor que leia atentamente este post porque dele resultará um possível e inédito esforço da sociedade civil para combater o uso ilegal de poder econômico e de recursos públicos por empresários do setor de comunicação, em claro favor de uma facção política.
Para entender a questão que estou propondo voltemos à última terça-feira (13/7), quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) multou o jornal O Estado de Minas em R$ 7 mil por fazer “campanha antecipada” para o candidato do PSDB à Presidência, José Serra.
Segundo notícia vagamente reproduzida em alguns grandes portais de internet – e que as imprensas escrita, televisada e radiofônica esconderam total ou parcialmente –, “O veículo foi acusado pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) de publicar, em seu caderno de política, no dia 10 de abril deste ano, reportagem alusiva ao lançamento da pré-candidatura de José Serra à Presidência da República”.
A denúncia do MPE foi acolhida pela ministra substituta do TSE, Nancy Andrighi, que multou o jornal mineiro.
Por certo, não é a primeira vez que um meio de comunicação é multado por fazer campanha ilegal para um candidato, mas não me lembro de outro caso igual envolvendo um veículo do porte de O Estado de Minas.
O fato supra mencionado me voltou à mente na manhã deste sábado (17/7). Como a minha filha caçula, de onze anos, está novamente internada, a fim de passar o tempo entre a noite de sexta-feira até agora, devorei vários jornais e revistas comprados na banca em frente ao hospital.
Foi aí que me veio o pensamento de que os mais eminentes órgãos de imprensa escrita estão fazendo campanha eleitoral em favor de Serra tanto quanto o Estado de Minas, só que na forma de campanha negativa contra Lula, Dilma e o PT.
Impressionou-me a avaliação desses órgãos de imprensa todos juntos. É impossível ler qualquer um deles sem que a enorme dose de más notícias contra o presidente da República, contra a sua candidata e contra o partido dos dois chame a atenção do leitor.
Comprei O Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo, O Globo e as revistas Veja e Época
Todos juntos continuam acusando a campanha de Dilma de ter feito dossiê contra Serra e Eduardo Jorge valendo-se do poder do governo Lula sobre a Receita Federal.
Todos juntos contam que a Sociedade Interamericana de Imprensa considerou o governo Lula antidemocrático e o acusou de atentar contra a liberdade de imprensa.
Todos juntos criticam Dilma por “guardar dinheiro debaixo do colchão”, valendo-se de declaração de bens dela à Justiça Eleitoral ao se registrar como candidata.
Todos juntos manipularam o comparecimento de público ao comício com Dilma e Lula no Rio. A Folha chegou a dizer que só mil pessoas foram ao evento, o que, lendo a matéria, descobre-se que foi o que restou de público depois de cair um temporal.
Todos juntos acusam o presidente Lula de “violar as leis” por apoiar publicamente a sua candidata, ignorando total ou parcialmente que Serra também está sendo multado por infringir a lei eleitoral.
As poucas notícias desfavoráveis a Serra, além do volume infinitamente menor delas, tampouco aparecem na primeira página ou na capa desses veículos. E aparecem bem pouco. Para cada 10 notícias ou comentários contra os petistas aparecem, no máximo, um ou dois contra os tucanos, se tanto.
Afirmo publicamente que os jornais O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e o Globo, bem como a revista Veja, fizeram e continuam fazendo campanha escancarada para Serra e campanha negativa contra Lula, Dilma e o PT fora da época permitida pela lei eleitoral.
A mera análise de um período maior de tempo revelará uma prática sistemática desses órgãos de imprensa de fazerem campanha negativa contra os petistas. É preciso trazer esses números à ordem do dia. Há que apurá-los, divulgá-los e entregá-los à Justiça.
Vale lembrar que o conceito de “campanha eleitoral negativa” surgiu recentemente, quando o sindicato dos professores paulistas, a Apeoesp, promoveu atos públicos contra o governo do Estado, o que foi considerado campanha negativa contra Serra pelo TSE, que multou o sindicato.
A sociedade civil não pode mais aceitar que a imprensa faça campanha tão descarada contra Lula, Dilma e o PT e a favor de Serra e do PSDB. A mesma Justiça Eleitoral que está punindo políticos e meios de comunicação por campanha antecipada, tem obrigação de reconhecer e punir o volume impressionante da campanha escancarada dos veículos supra mencionados.
Que fazer, diante de uma situação de afronta às leis e de verdadeira chacota por parte de uma mídia que se transformou em linha auxiliar da campanha presidencial tucana? Novamente, acho que será preciso jogar a sociedade civil em cima deles.
Só que essa ação precisa ser muito bem estudada. Até porque, dará um trabalho enorme quantificar o volume impressionante de matérias atacando Lula, Dilma e o PT. E é justamente na quantificação dessas matérias, na desproporção absurda em relação aos candidatos que está o fio da meada.
Desta forma, pretendo formar um núcleo de pessoas dispostas a colaborar com a preparação de uma reação da sociedade civil à afronta que esses grandes órgãos da imprensa escrita estão praticando contra as leis.
Estudaremos se caberá de fato ao Movimento dos Sem Mídia tomar uma atitude nessa questão. Sendo assim, quero formar um grupo de filiados ao MSM ou não para que reunamos todo o material necessário a uma medida judicial. Aceitaremos voluntários para a tarefa.
Estou entrando em contato com o setor jurídico do MSM, pedindo estudo do assunto e propondo que nossa organização se reúna talvez até com juristas independentes para melhor analisarmos as opções de reação ao abuso da imprensa escrita.
Será nesse momento que precisaremos do esforço de todos vocês para que consigamos, novamente, outros milhares de assinaturas de apoio à medida que nós, do MSM, poderemos vir a tomar conforme a natureza da análise do nosso setor jurídico.
Peço a cada uma das centenas de pessoas que acabam de se filiar à ONG que consiga apoios à possível representação ao MPE, pois esses apoios, chegando novamente aos milhares, colocarão a Justiça na obrigação de dar uma reposta séria e muito bem ponderada à propositura que lhe poderá ser feita.
Em minha visão, seria facílimo provar que Globo, Folha, Veja e Estadão estão fazendo campanha para Serra desde muito antes do permitido pela lei tanto quanto fez o jornal O Estado de Minas.
Bastará apurar o que fizeram esses veículos no decorrer deste ano. Está tudo muito bem registradinho. Claro que virão com aquela conversa de que são isentos e de que tratam todos os candidatos da mesma forma, mas será brincadeira de criança provar que é mentira.
Logo, logo voltarei ao assunto para tratá-lo em bases mais concretas. Aguardem-me.
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