sexta-feira, 18 de maio de 2012

Para não dizerem que não falei de Blairo e Jayme


Eles são nossos funcionários públicos
Certa vez o chargista Angeli, da Folha de S. Paulo, se queixou que teve que explicar uma charge que milhares de leitores do diário paulista não entenderam. O mesmo, se não me engano, teria ocorrido com Jaguar, Ziraldo ou Millor. No âmbito dos textos, sobretudo, opinativos, autores invariavelmente retornam a um assunto, mais para os desdobramentos da polêmica que gerou e muito raramente para esclarecer aos leitores.

Até agora não observei contestações a meu texto “Taques ainda não mostrou ao que veio”, pelo menos nos pontos que os trato no artigo. Meus críticos não se propuseram a polemizar comigo, o que é uma pena. Limitam-se a tentar me desqualificar e a cobrar-me igual posicionamento crítico aos outros dois senadores mato-grossenses, Blairo Maggi (PR) e Jayme Campos (DEM).

Vamos, então, às necessárias explicações. Demanda antes algumas observações. A primeira delas é que não nutro contrariedades pessoais a Pedro Taques. Muito pelo contrário: no plano pessoal nossa relação é tão próxima que me permite a conferenciar com ele questões de minha intimidade doméstica.

Tenho pelos senadores Blairo Maggi e Jayme Campos igual carinho e respeito, mas posso afirmar que nenhum dos dois são tão mais próximos a mim quanto Pedro Taques.

Ocorre que Pedro Taques, assim como Blairo e Jayme, não se igualam a meus grandes amigos aqui de Brasília. Não porque não quereria os três na minha conta e os dispensasse de uma convivência agradável no Clube do Choro, Clube da Bossa, Café com Letras ou um churrasquinho ou feijoada no Clube da Imprensa.

Taques, Blairo e Jayme exercem outra função na minha vida. São representantes políticos de meu estado adotivo e do meu Brasil e as responsabilidades deles perante o cidadão João Negrão e aos cerca de três milhões de cidadãos mato-grossenses e os quase 200 milhões de brasileiros vão muito além do que compartilhar o cotidiano de minha ou da sua, leitor, vida pessoal.

Os três são homens públicos, foram eleitos para nos representar e, me perdoem a fatal deselegância, nos devem satisfação, pois são nossos funcionários públicos, nossos empregados. É assim que os tenho e penso que é assim que os deveriam ter os cidadãos mato-grossenses.

Por esta premissa, não vejo Taques – ou Blairo, ou Jayme, ou Protógenes Queiroz, que é do meu partido, o PC do B – como meu amiguinho, meu correligionário e muito menos meu empregador. Importa aqui dizer isto em razão de a maioria de meus críticos ostentar uma dessas situações aí, quando não exerce a humilhante condição de louvaminheiros.

Portanto, escrevi o texto sobre o Taques movido pela minha condição de cidadão, em primeiro lugar, e, depois, de jornalista, já que sou obrigado a observar diariamente o cotidiano da Praça dos Três Poderes, em especial o Congresso Nacional.

Moveu-me ainda, como cidadão e como jornalista, a percepção de que Taques, um ano e quatro meses no cargo, ainda não tenha se encontrado e se posicionado de forma nítida dentro do parlamento. Isto vem causando a mim e a milhares de seus eleitores uma preocupação que já transita para o lado da decepção.

Tenho comigo que sobre Pedro Taques há ainda muito que se avaliar. E ousarei fazê-lo. Os pontos que foco no artigo enviesam somente para uma questão fundamental: a postura retilínea do senador em relação a um suposto legalismo que o contrapõe à dinâmica da política.

Há nessa postura de Taques o camuflar de uma posição politico-ideológica enrustida. É muito simplista imaginar que Taques não tem a capacidade de compreender a dinâmica da política e do seu mecanismo mais emblemático: o Parlamento.

Não me permito aceitar que ele se faça crer que, no seu constitucionalismo sectário, não é possível repensar as mudanças das leis, diante do avanço da sociedade, da História e das necessidades humanas.

De outro modo, é ilícito intuir que Taques se conduza pelas pueris intervenções a favor de um legalismo devido a sua total fidelidade a seus preceitos, quando a sua conduta demonstra que o faz de forma seletiva.

A própria existência de Pedro Taques dentro do Senado da República Federativa do Brasil é a prova mais cabal de que o movimento político tem seu dinamismo próprio, que passa ao largo dos desejos do senador mato-grossense.

Além do mais, por ser o movimento da sociedade (o que se materializa no fazer política) tão dinâmico é que se exige a existência do parlamento, sobretudo, para mudar as leis, adequando-as às urgências desse dinamismo. Não fosse assim o próprio senador Pedro Taques estaria descartado.



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