"Batman:
O Cavaleiro das Trevas Ressurge", que estreia nesta sexta-feira no Brasil
e deve lotar os cinemas aqui de Brasília, dizem, fecha a trilogia do diretor
Christopher Nolan. Tenho dúvidas se fica só nos três, embora o próprio diretor
tenha anunciado isto. Suspeito que ele poderá fazer como George Lucas em “Guerra
nas estrelas”. Tenho alguns motivos para torcer a favor e contra.
Gosto
do trabalho de Nolan, que aprofundou nas trevas o Batman que estava mais para
os meus gibis de adolescente do que a famosa série de TV da mesma época desta
fase da minha vida. O seriado trazia um Batman clean e levemente caricato. A
série em si já era uma caricatura das revistas em quadrinhos. Me divertia com
as duas mídias, saboreando elementos de um e de outro. Por levar mais para o gibi,
Nolan me agradou muito.
O
contraponto é justamente e paradoxalmente o ambiente que o diretor sempre
conduziu os dois primeiros e, pelo que li e assisti até agora, nos traz o
terceiro. Para mim ele é perverso demais, deprimente ao extremo e, de algum
modo, caricato com a violência e os personagens. É necessário reconhecer que
estes e outros elementos que minha limitação agora não consegue expressar compõem
a essência do conjunto da obra de Nolan e, por este motivo, a faz ser
respeitada.
Afinal,
arte é para provocar os sentidos, causar desconforto, prolongar a percepção.
Nisto os filmes de Nolan são perfeitos e os do Batman até aqui são emblemáticos.
Onde
está o meu problema, então? Ele reside no fato de que meu estado de espírito
recente requer mais do que mergulhar em abismos sem a premência de um
contraponto que não seja apenas a vitória do mocinho depois de um conjunto de
revezes. Se vence a justiça e a paz no final, ambas estarão sempre débeis no
desdobrar do sistema e dos personagens alinhados ou não a ele.
E
a esperança de um mundo melhor, sem os bandidos e seus crimes, continuará nas
mãos de um herói que é simbólico para as mazelas do capitalismo. Os filmes de
Nolan destronam a ingenuidade e um certo diletantismo do personagem e de sua
identidade secreta e os transformam na essência de uma representação da elite que
age como se só ele fosse capaz de tudo. Não tem Robin e o comissário Gordon é
transposto para além das raias do ridículo.
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