Impressionante.
Mas é a vida. O comportamento humano é isto: totalmente cheio de surpresas,
contradições, volúpias, reticências, inesperados, sempre. Ao contrário, não
seríamos humanos, esses seres em constante conflito entre a natureza (instinto)
e a cultura (aqui, regras da sociedade em que vive). Fossemos animais ditos irracionais,
nos moveríamos tão somente pelo instinto e pronto. Tudo estaria resolvido e a mãe
natureza se encarregaria de colocar ordem nas coisas, ainda que a acumulação
quantitativa um dia vá desabrochar em qualidade e os rumos da vida mudarão invariavelmente, sempre para melhor.
A
partir desta premissa, comento no geral sobre algumas reações que me externaram em
relação ao artigo em que contesto o prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes (PSB), que
quer porque quer fundir as secretarias de Cultura e Turismo. Aliás, não sejamos
ingênuos: ele já fez isto. E vai levar com a barriga até as coisas se
acomodarem. Minha teoria é que Mendes está cagando e andando para artistas,
produtores e “culturetes” em geral. Tenho comigo uma quase certeza de que o “socialista”
Mauro Mendes é um desses candidatos a déspota da vez, que a vida democrática um
dia se encarregará colocá-lo em seu devido lugar: o lixo da história. Mas ele
pode, se for inteligente o bastante, se reciclar e retomar o caminho da
utilidade.
Algumas
reações de temor, pavor, fervor, torpor e, especialmente, de bajulador em
relação às minhas críticas ao prefeito tem explicações variadas. Uma delas, no
entanto, reside em algo simples, mais muito simples: o fetiche. Fico muito
impressionado com o fetiche que políticos exercem nas pessoas. Tanto que as
turva a possibilidade (quando as têm) de serem críticas, questionarem. E é mais
assustador quando isto acontece com gente com histórico de luta política e
ideológica. Nestes casos, não apenas o fetiche está operando, mas a ingenuidade
e também o oportunismo mais puro e vulgar.
O
fetiche é algo que as pessoas em geral associam à questão sexual, a objetos que
despertam desejos sexuais. Mas em essência o isto é mesmo. Essencialmente,
temos motivações e comportamentos emulados pela atração sexual e ela pode se
materializar em objetos. As pessoas costumam satisfazer-se sexualmente (ainda
que não conscientemente) com o simples fato de possuir objetos. Os capitalistas
descobriram isto muito cedo. Karl Marx, lá na segunda metade do século 19, já
havia refletido sobre o fetiche da mercadoria ainda no primeiro livro de “O
Capital”. Ele estudou e expôs com enorme lucidez o papel que as mercadorias
exercem sobre as pessoas ao ponto de criarem vida independente e extrapolarem as
suas necessidades materiais e sociais. Que o diga o celular da moda, o carro de
último tipo, a bolsa da atriz famosa e até a pós-graduação na Fundação Getúlio
Vargas.
Transportando
isto para a política, o capitalismo e o sistema político de sua classe, a
burguesia, tratou de transformá-la e a todos os seus mecanismos pessoais e
materiais em fetiches. Esses objetos (o político e seus “templos” e por tabelas
suas ações e seus posicionamentos) exercem grande fascínio sobre os desavisados.
Tanto que há pessoas que, fascinadas irremediavelmente, creem cegamente que determinados
políticos estão no poder porque “mereceram” e se esquecem de que eles estão ali
por que foram votados por eleitores ou porque induziram de forma
não-republicana os eleitores a os escolherem ou ainda recorreram a atos
condenáveis para conseguirem o poder.
Ao
pedir o voto e aparecer nas propagandas, “vendidos” como produtos que irão “colocar
a casa em ordem”, “resgatar não sei o quê” e “priorizar este e aquele serviço
público”, especialmente. Mas nem tanto por isto. O fato é que o poder é este
objeto de fascínio e as pessoas fracas em relação a ele tendem a serem
seduzidas e algumas se colocam entre o limite do fetichismo e da Síndrome de
Estocolmo. A fraqueza é imposta aos oportunistas em geral por interesses
políticos e econômicos. Mas nela pode estar embutida ou ser a principal expressão
na atração fetichista dos desavisados em geral. Afinal, poder e libido são
amigos coloridos (amantes ou “ficantes”) desde a nascença.
É
este fetiche que os políticos em geral exercem sobre os incautos e que faz deles
(vereadores, prefeitos, deputados, senadores e presidentes – e não apenas)
essas “coisas” inquestionáveis quando a paixão sobrepõe à razão e a adoração do
falo predomina na mente instintiva de seres ditos racionais.
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