terça-feira, 5 de março de 2013

Fetiche


Impressionante. Mas é a vida. O comportamento humano é isto: totalmente cheio de surpresas, contradições, volúpias, reticências, inesperados, sempre. Ao contrário, não seríamos humanos, esses seres em constante conflito entre a natureza (instinto) e a cultura (aqui, regras da sociedade em que vive). Fossemos animais ditos irracionais, nos moveríamos tão somente pelo instinto e pronto. Tudo estaria resolvido e a mãe natureza se encarregaria de colocar ordem nas coisas, ainda que a acumulação quantitativa um dia vá desabrochar em qualidade e os rumos da vida mudarão invariavelmente, sempre para melhor.

A partir desta premissa, comento no geral sobre algumas reações que me externaram em relação ao artigo em que contesto o prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes (PSB), que quer porque quer fundir as secretarias de Cultura e Turismo. Aliás, não sejamos ingênuos: ele já fez isto. E vai levar com a barriga até as coisas se acomodarem. Minha teoria é que Mendes está cagando e andando para artistas, produtores e “culturetes” em geral. Tenho comigo uma quase certeza de que o “socialista” Mauro Mendes é um desses candidatos a déspota da vez, que a vida democrática um dia se encarregará colocá-lo em seu devido lugar: o lixo da história. Mas ele pode, se for inteligente o bastante, se reciclar e retomar o caminho da utilidade.

Algumas reações de temor, pavor, fervor, torpor e, especialmente, de bajulador em relação às minhas críticas ao prefeito tem explicações variadas. Uma delas, no entanto, reside em algo simples, mais muito simples: o fetiche. Fico muito impressionado com o fetiche que políticos exercem nas pessoas. Tanto que as turva a possibilidade (quando as têm) de serem críticas, questionarem. E é mais assustador quando isto acontece com gente com histórico de luta política e ideológica. Nestes casos, não apenas o fetiche está operando, mas a ingenuidade e também o oportunismo mais puro e vulgar.

O fetiche é algo que as pessoas em geral associam à questão sexual, a objetos que despertam desejos sexuais. Mas em essência o isto é mesmo. Essencialmente, temos motivações e comportamentos emulados pela atração sexual e ela pode se materializar em objetos. As pessoas costumam satisfazer-se sexualmente (ainda que não conscientemente) com o simples fato de possuir objetos. Os capitalistas descobriram isto muito cedo. Karl Marx, lá na segunda metade do século 19, já havia refletido sobre o fetiche da mercadoria ainda no primeiro livro de “O Capital”. Ele estudou e expôs com enorme lucidez o papel que as mercadorias exercem sobre as pessoas ao ponto de criarem vida independente e extrapolarem as suas necessidades materiais e sociais. Que o diga o celular da moda, o carro de último tipo, a bolsa da atriz famosa e até a pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas.

Transportando isto para a política, o capitalismo e o sistema político de sua classe, a burguesia, tratou de transformá-la e a todos os seus mecanismos pessoais e materiais em fetiches. Esses objetos (o político e seus “templos” e por tabelas suas ações e seus posicionamentos) exercem grande fascínio sobre os desavisados. Tanto que há pessoas que, fascinadas irremediavelmente, creem cegamente que determinados políticos estão no poder porque “mereceram” e se esquecem de que eles estão ali por que foram votados por eleitores ou porque induziram de forma não-republicana os eleitores a os escolherem ou ainda recorreram a atos condenáveis para conseguirem o poder.

Ao pedir o voto e aparecer nas propagandas, “vendidos” como produtos que irão “colocar a casa em ordem”, “resgatar não sei o quê” e “priorizar este e aquele serviço público”, especialmente. Mas nem tanto por isto. O fato é que o poder é este objeto de fascínio e as pessoas fracas em relação a ele tendem a serem seduzidas e algumas se colocam entre o limite do fetichismo e da Síndrome de Estocolmo. A fraqueza é imposta aos oportunistas em geral por interesses políticos e econômicos. Mas nela pode estar embutida ou ser a principal expressão na atração fetichista dos desavisados em geral. Afinal, poder e libido são amigos coloridos (amantes ou “ficantes”) desde a nascença.

É este fetiche que os políticos em geral exercem sobre os incautos e que faz deles (vereadores, prefeitos, deputados, senadores e presidentes – e não apenas) essas “coisas” inquestionáveis quando a paixão sobrepõe à razão e a adoração do falo predomina na mente instintiva de seres ditos racionais.

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