quarta-feira, 18 de julho de 2012

Assassinato no cemitério: vingança, queima de arquivo?



Corpo do agente assassinado no cemitério (foto: Correioweb)
Um juiz é ameaçado de morte. Uma procuradora é ameaçada de morte. Um agente da Polícia Federal é assassinado em plena luz do dia em um cemitério de Brasília.

Estes seriam três episódios isolados se os personagens não tivessem algo muito em comum: participação na Operação Monte Carlo, que prendeu o bicheiro Carlinhos Cachoeira em fevereiro deste ano.

A prisão desbaratou uma quadrilha com base no estado de Goiás, atuando na exploração do jogo do bicho e de caça-níqueis, mas com forte presença no submundo da política nacional, corrompendo, cooptando e chantageando políticos de todos os matizes.

A ousadia era tanta que o bando mantinha ramificações dentro do governo de Goiás, na própria Polícia Federal e no Congresso Nacional, onde o ex-senador Demóstenes Torres era a expressão maior do braço político de Cachoeira e por isso mesmo foi cassado na semana passada.

A procuradora Léa Batista, do Ministério Público de Goiás, teve participação de destaque na Operação Monte Carlo e foi uma das responsáveis pela denúncia contra Cachoeira e seu bando. Ela e sua família vêm recebendo constantes ameaças de morte.

O juiz federal Paulo Augusto Moreira Lima, também atuando em Goiás, foi o responsável pela ação penal desencadeada com base na Operação Monte Carlo. Ele e sua família também vinham sendo ameaçados, situação que cessou depois que Lima pediu afastamento do caso.

O agente Wilton Tapajós Macedo trabalhava no núcleo de inteligência da Polícia Federal e participou da investigação na Operação Monte Carlo, desde o início, em 2009. Na tarde da última terça-feira (17), Macedo fazia uma visita ao túmulo dos pais, no cemitério do Plano Piloto. Eram cerca de 15 horas quando levou dois tiros na nuca.

A forma como ele foi baleado e o fato de o a assassino ter fugiu com o carro do agente, mas não ter levado a arma e a carteira de Macedo, aponta para indícios de execução. Mesmo assim, a polícia trabalha inicialmente com hipótese de latrocínio (assassinato para roubar).

Muito embora agentes policiais - seja da Civil, Militar, Rodoviária ou Federal – são, em geral potenciais alvos de vingança, devido justamente ao seu trabalho de repressão ao crime. Portanto, se for confirmada a hipótese de execução, não se pode dizer que haveria relação com a Operação Monte Carlo. Além da área de inteligência, o agente participou do setor de combate ao tráfico de drogas da PF. Reforce-se que o chefe e colegas de Macedo não tinha conhecimento de ameaças contra ele.

Ocorre que a coincidência é muito grande e só por esse motivo esta linha de investigação não pode ser afastada. "É estranho que tenham deixado a arma na cintura dele", disse o presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal, Jones Borges Leal, ao não descartar a possibilidade de queima de arquivo.

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