Por João Negrão
O Partido Comunista
do Brasil (PC do B) vai mesmo mudar de nome? Este foi o assunto que
ganhou os meios políticos, especialmente os de esquerda, na última
semana do ano que findou. Uma matéria publicada no portal
Metrópoles, aqui de Brasília, dava conta da mudança. Em nota o
partido negou e tratou de disseminar matérias sobre a resolução do
seu comitê central em que explica a sua tática eleitora para 2020.
Depois de toda a
polêmica, o que se conclui é que, no mínimo, uma engenharia leve
está sendo feita para tornar a legenda mais palatável ao
eleitorado. Assim, o partido mais antigo do Brasil e uma das
organizações de orientação marxista-leninista mais antigas do
mundo, esconderia seu nome e apareceria, perante eleitores e
candidatos que pretende arrebanhar, como um movimento, o 65.
Juridicamente o PC do B não abandonaria o histórico nome, mas seria
apenas o Movimento 65, uma espécie de “nome fantasia”.
A meu ver, o PC do B
está entrando numa verdadeira fantasia e aposto com quem quiser que
a legenda vai mesmo mudar de nome. E de forma oficial. Não afirmo
que a mudança aconteceria agora, já para o pleito de 2020, ao qual
pretende se lançar de forma mais afoita que os “jorges paulos
lemaans” da vida.
O abandono total a
resquícios de comunismo na história desse glorioso partido
acontecerá no momento certo, aquele em que ele completará de vez
sua guinada: no plano político, para a prioridade institucional, nem
que para isto se conduza às fronteiras do oportunismo; no plano
ideológico, confirmando-se como a agremiação pequeno-burguesa pela
qual se enveredou há mais de década em meia.
Antes de prosseguir
são importantes algumas observações. Estamos falando de uma
agremiação que vai completar daqui a dois anos um século de
existência, ao longo do qual esteve presente em todas as grandes
lutas da vida política nacional. No momento atual cumpre fundamental
papel na resistência democrática, contra o fascismo que quer se
perpetuar. O PC do B possui quadros e militantes altamente
preparados, aguerridos e sempre prontos a ombrear com o povo
brasileiro em todos os embates nacionais.
É necessário ainda
afirmar que tenho orgulho de ter vivido 39 anos nas fileiras do PC do
B e que a esse partido devo muito de minha vida: minha consciência
de classe, minha vida profissional e a utopia de uma sociedade
socialista, o fim de todas as explorações e a construção de um
novo homem.
Saí do partido
justamente para manter o respeito por ele, por aquele PC do B que me
ensinou a ser um militante acima de tudo, a exercer a crítica e a
autocrítica, a nunca fugir do debate, a estudar a teoria
revolucionária e a lutar sempre. Desculpe o surrado clichezão: não
fui eu quem saiu do partido, foi ele que sai de mim.
Necessito ainda
escrever que tenho grande honra de compartilhar minha vida pessoal
com camaradas do PC do B que tornam minha vida feliz por conta de uma
convivência fraterna. Relutei muito a escrever este texto,
justamente por causa desses camaradas - mulheres, homens e jovens os
quais estão na minha cota de amizade. Sei que todas as vezes que eu
critico o PC do B eles se sentem ressentidos comigo. Lamento, mas
tenho que externar minha posição. Até porque elas não possuem
nenhum traço de questão pessoal. Constatar um partido de
politicamente oportunista e ideologicamente pequeno-burgueses não é
tachar seus militantes da mesma forma.
Esses militantes não
têm culpa de que, em sua essência, enquanto um verdadeiro Partido
Comunista, o PC do B abandonou quase que integralmente seus
princípios. Contudo, não basta se dizer comunista e afirmar que se
guia pelo marxismo-leninismo para se ostentar como um Partido
Comunista. O que está acontecendo com este partido é uma das mais
vergonhosas capitulações no seio do movimento comunista nacional e
internacional. Nunca houve e não há contradições entre um partido
revolucionário necessitar crescer eleitoralmente e empreender o
trabalho revolucionário, que requer ir para as ruas, para as portas
de fábricas, escolas e onde estiver o proletariado para organizar e
conscientizar o povo.
O trabalho eleitoral
sem a perspectiva revolucionária, e aqui implica, repito, a
organização e conscientização popular, é trabalho de partido
burguês. Envolto nas pós-verdades, o PC do B vem priorizando
gradativamente as investidas institucionais e reduzindo, neste campo,
seus métodos de organização e mobilização de forma vergonhosa.
Com o Movimento 65 e
a Plataforma Comuns, o PC do B lança mão de métodos dos atuais
partidos de direita, de movimentos como o Acredito, Livres e o
RenovarBR, todos financiados por grandes empresários nacionais e
multinacionais. É uma forma de atuação suicida política e
eleitoralmente, pois além de não conseguir competir com o poderio
da burguesia local e internacional, corre-se o risco de uma
“tabatização” de seus quadros no parlamento, ajudando a eleger
gente sem nenhum compromisso com as causas do povo.
Em vez de se lançar
à tarefa comunista de politizar os trabalhadores e o eleitorado, o
PC do B se rende de fato neste embate político e ideológico, que
vem sendo vencido pela direita em geral e os fascistas, em especial,
pontas de lança, no Brasil e no mundo, das investidas da atual etapa
do capitalismo e sua burguesia financeira nos campos da economia,
política e ideologia.
Por tudo que expus
acima e por outras questões que pretendo tratar em outros textos, é
que dobro minha posta: o PC do B está fadado a mudar de nome porque
ele está deixando de ser comunista. Só tem uma forma de o PC do B
não mudar de nome. É ele não deixar de ser comunista.
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