sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Porque o PC do B vai mudar de nome


Por João Negrão


O Partido Comunista do Brasil (PC do B) vai mesmo mudar de nome? Este foi o assunto que ganhou os meios políticos, especialmente os de esquerda, na última semana do ano que findou. Uma matéria publicada no portal Metrópoles, aqui de Brasília, dava conta da mudança. Em nota o partido negou e tratou de disseminar matérias sobre a resolução do seu comitê central em que explica a sua tática eleitora para 2020.


Depois de toda a polêmica, o que se conclui é que, no mínimo, uma engenharia leve está sendo feita para tornar a legenda mais palatável ao eleitorado. Assim, o partido mais antigo do Brasil e uma das organizações de orientação marxista-leninista mais antigas do mundo, esconderia seu nome e apareceria, perante eleitores e candidatos que pretende arrebanhar, como um movimento, o 65. Juridicamente o PC do B não abandonaria o histórico nome, mas seria apenas o Movimento 65, uma espécie de “nome fantasia”.

A meu ver, o PC do B está entrando numa verdadeira fantasia e aposto com quem quiser que a legenda vai mesmo mudar de nome. E de forma oficial. Não afirmo que a mudança aconteceria agora, já para o pleito de 2020, ao qual pretende se lançar de forma mais afoita que os “jorges paulos lemaans” da vida.

O abandono total a resquícios de comunismo na história desse glorioso partido acontecerá no momento certo, aquele em que ele completará de vez sua guinada: no plano político, para a prioridade institucional, nem que para isto se conduza às fronteiras do oportunismo; no plano ideológico, confirmando-se como a agremiação pequeno-burguesa pela qual se enveredou há mais de década em meia.

Antes de prosseguir são importantes algumas observações. Estamos falando de uma agremiação que vai completar daqui a dois anos um século de existência, ao longo do qual esteve presente em todas as grandes lutas da vida política nacional. No momento atual cumpre fundamental papel na resistência democrática, contra o fascismo que quer se perpetuar. O PC do B possui quadros e militantes altamente preparados, aguerridos e sempre prontos a ombrear com o povo brasileiro em todos os embates nacionais.

É necessário ainda afirmar que tenho orgulho de ter vivido 39 anos nas fileiras do PC do B e que a esse partido devo muito de minha vida: minha consciência de classe, minha vida profissional e a utopia de uma sociedade socialista, o fim de todas as explorações e a construção de um novo homem.

Saí do partido justamente para manter o respeito por ele, por aquele PC do B que me ensinou a ser um militante acima de tudo, a exercer a crítica e a autocrítica, a nunca fugir do debate, a estudar a teoria revolucionária e a lutar sempre. Desculpe o surrado clichezão: não fui eu quem saiu do partido, foi ele que sai de mim.

Necessito ainda escrever que tenho grande honra de compartilhar minha vida pessoal com camaradas do PC do B que tornam minha vida feliz por conta de uma convivência fraterna. Relutei muito a escrever este texto, justamente por causa desses camaradas - mulheres, homens e jovens os quais estão na minha cota de amizade. Sei que todas as vezes que eu critico o PC do B eles se sentem ressentidos comigo. Lamento, mas tenho que externar minha posição. Até porque elas não possuem nenhum traço de questão pessoal. Constatar um partido de politicamente oportunista e ideologicamente pequeno-burgueses não é tachar seus militantes da mesma forma.

Esses militantes não têm culpa de que, em sua essência, enquanto um verdadeiro Partido Comunista, o PC do B abandonou quase que integralmente seus princípios. Contudo, não basta se dizer comunista e afirmar que se guia pelo marxismo-leninismo para se ostentar como um Partido Comunista. O que está acontecendo com este partido é uma das mais vergonhosas capitulações no seio do movimento comunista nacional e internacional. Nunca houve e não há contradições entre um partido revolucionário necessitar crescer eleitoralmente e empreender o trabalho revolucionário, que requer ir para as ruas, para as portas de fábricas, escolas e onde estiver o proletariado para organizar e conscientizar o povo.

O trabalho eleitoral sem a perspectiva revolucionária, e aqui implica, repito, a organização e conscientização popular, é trabalho de partido burguês. Envolto nas pós-verdades, o PC do B vem priorizando gradativamente as investidas institucionais e reduzindo, neste campo, seus métodos de organização e mobilização de forma vergonhosa.

Com o Movimento 65 e a Plataforma Comuns, o PC do B lança mão de métodos dos atuais partidos de direita, de movimentos como o Acredito, Livres e o RenovarBR, todos financiados por grandes empresários nacionais e multinacionais. É uma forma de atuação suicida política e eleitoralmente, pois além de não conseguir competir com o poderio da burguesia local e internacional, corre-se o risco de uma “tabatização” de seus quadros no parlamento, ajudando a eleger gente sem nenhum compromisso com as causas do povo.

Em vez de se lançar à tarefa comunista de politizar os trabalhadores e o eleitorado, o PC do B se rende de fato neste embate político e ideológico, que vem sendo vencido pela direita em geral e os fascistas, em especial, pontas de lança, no Brasil e no mundo, das investidas da atual etapa do capitalismo e sua burguesia financeira nos campos da economia, política e ideologia.

Por tudo que expus acima e por outras questões que pretendo tratar em outros textos, é que dobro minha posta: o PC do B está fadado a mudar de nome porque ele está deixando de ser comunista. Só tem uma forma de o PC do B não mudar de nome. É ele não deixar de ser comunista.





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