segunda-feira, 10 de abril de 2023

Jorge Bastos Moreno, "O Repórter do Poder", teria sido demitido por esses dias

Por João Negrão




Assista à série documental “O Repórter do Poder” sobre o jornalista Jorge Bastos Moreno, que está na Globoplay. Ela não é apenas a linda história de um grande jornalista negro que penetrou e esmiuçou os poderes da República como ninguém. Ela é parte da história política do Brasil.

Eu já era apaixonado por Moreno em vida e a série é uma daquelas emoções que nos faz encantar por aquela figura humana, profissional e delicada que só Jorge Bastos sabia ser. Assistam e se apaixonem pelo homem e profissional.

Já acompanhava muito antes a trajetória profissional de Moreno, mas foi em 1993 que nos cruzamos na avenida do CPA, em Cuiabá. Eu era coordenador de Comunicação da prefeitura da capital mato-grossense, então administrada por Dante de Oliveira.

O autor da emenda das Diretas, em plena campanha para o governo do Estado, entre outras ações, resolveu homenagear o “Senhor das Diretas”, seu grande parceiro na memorável campanha, morto exatamente um ano antes, em 12 de outubro de 1992.

O cerimonial da prefeitura cuidou dos convidados políticos, personalidades, artistas e lideranças nacionais, além de familiares de Ulisses. Eu e minha equipe, liderados pelo secretário de Comunicação Tinho Costa Marques, cuidamos do convite aos colegas jornalistas.

“Tenho duas prioridades de jornalistas de Brasília: Jorge Bastos Morenos e Delis Ortis, que são cuiabanos. São meus convidados especiais de Brasília”, me orientou Dante. E lá fui eu atrás de telefones e telex (isto, telex, era o que tínhamos de mais eficaz na época em que o fax estava engatinhando e logo seria suplantado pelo e-mail).

Localizei Moreno, que de imediato aceitou o convite e chegou lá ainda magro. Delis ficou nas cadeiras dedicadas às autoridades, convidados de honra. Moreno ficou transitando pelo ambiente, em busca de bastidores. Afinal, estavam ali políticos, personalidades e artistas que participaram do maior movimento democrático brasileiro em plena ditadura, que era para derrubá-la.

Poucos meses antes daquele outubro de 1993, mais exatamente em março, se completariam dez anos do início da campanha das Diretas, cuja emenda constitucional apresentada por Dante seria derrotada no Congresso Nacional um ano depois.

Aquele inquieto repórter não perdeu a oportunidade.

Conversamos com mais tempo quando ele foi transmitir seus textos para o Globo no espaço que reservamos para os repórteres em barracão improvisado do outro lado do que é hoje a Praça Ulisses Guimarães, na avenida da CPA, ali na entrada para o Centro Político e Administrativo (CPA), onde ficam as sedes dos poderes de Mato Grosso.

Fui reencontrar com Moreno 20 anos depois, quando ele recebeu em sua casa no Lago Norte (que ele dividia a permanência com outra no Rio) um grupo de jornalistas cuiabanos e que atuaram em Mato Grosso. Nos serviu uma deliciosa peixada cuiabana.

Estas lembranças me chegam no momento em que as Organizações Globo estão demitindo dezenas de jornalistas, muitos deles do naipe de Jorge Bastos Moreno. Então, assistindo à série que o tem como protagonista, surge logo a pergunta: estaria Moreno entre os demitidos desses dias?

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