Por João Negrão
Os vídeos que circulam nas redes sociais e que o Brasil 247 reproduz em reportagem neste domingo mostram a “aula inaugural” do paramilitarismo que surge insuflado e financiado pela elite agrária nacional em sua camada mais retrógrada e fascista. Era só o que faltava. O terrorismo em estado bruto.
As imagens mostram um grupo de cerca de dez homens armados e encapuzados atacando um pedágio e um posto da concessionária da rodovia BR 163, a Rota Oeste, entre os municípios Lucas do Rio Verde e Sorriso, em Mato Grosso. Eles jogaram coquetéis molotov em cancelas de pedágio e nos veículos da concessionária. Um posto da estatal MTPar também foi atacado.
O episódio demonstra que as sabotagens contra o estado brasileiro, que iniciou com os ataques ao processo eleitoral e às instituições, evoluiu dos bloqueios das estradas e da ocupação das áreas de entorno dos quarteis do Exército pelos inconformados com a derrota, para ações armadas e clandestinas; terrorismo, em suma.
Morei em Mato Grosso por 27 anos e ali fui repórter, editor, chefe de reportagem e diretor de redação dos principais veículos de comunicação do Estado. Durante os anos 80 e 90, especialmente, cobri conflitos agrários, invasão de terras indígenas pelo latifúndio, garimpeiros e madeireiros, a sanha extrativista (de madeira a minérios), a atuação do crime organizado, os horrores da pistolagem em suas diversas vertentes.
Se naquele período a ação de grupos armados estava inserida quase que completamente na disputa por terras e riquezas naturais, agora o que se vê é uma ação terrorista, um ataque com exclusivo motivo político.
À medida que não encontram respaldo nas Forças Armadas, cujos comandantes assistem com desdém a horda de ridículos em suas fronteiras (exceto os generais bolsonaristas, tipo Braga Neto), os representantes do latifúndio fascista que financiam bloqueios e ocupações começam a organizar seus próprios exércitos.
Os CACs (Clubes de Atiradores e Colecionadores) são as principais células da força armada do latifúndio. Não é à toa que, em Mato Grosso, eles estão espalhados pelas estradas, em áreas rurais, em geral próximos a fazendas justamente de apoiadores de Bolsonaro, com mastros gigantes da bandeira nacional e grandes painéis em suas porteiras exaltando o líder fascista.
Mato Grosso tem um povo maravilhoso, mas é comandado por uma elite que contém um sedimento desprezível. Se há três ou quatro décadas a elite dominante fascista era aquele fazendeiro sem superestrutura, agora ele foi substituído pelo chamado “produtor rural”, integrante do “agronegócio”. Fazendeiro bronco virou produtor rural e agronegócio, eufemismo de latifúndio.
Nem a esquerda se dá conta de que uma de suas principais pautas, a reforma agrária, foi suplantada pela admiração geral (até dela mesma, a esquerda) pelo dito agronegócio. Esta narrativa – mais que isso, este ingrediente da dominação ideológica – soterra uma pauta, que em verdade, é uma pauta capitalista, mas que no Brasil agrário e latifundiário reforma agrária é “coisa de comunista”.
Importante refletir sobre esses pontos, porque o que estamos assistindo agora, com os ataques reportados, é nada mais nada menos que o horror de sempre praticado pelo latifúndio brasileiro. Só que pelo momento com ações escancaradamente políticas, terroristas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário