Obra se compara a documentos históricos que expuseram e confrontaram desastres políticos-ideológicos contemporâneos e recolocaram os comunistas nos trilhos
Por João Orozimbo Negrão
Há um crime político e ideológico em curso no espectro da esquerda brasileira. Um crime que se configura em um desastre iminente de um trem prestes a descarrilhar ou, na menor desfortuna, compelido a uma mudança de trilhos investida por uma aparelhagem de manobra que acolhe os nomes “oportunismo” e “liquidacionismo”.
O livro “Comunistas no Brasil 100 anos – Um partido centenário para um novo tempo” (Kotter Editorial), dos jornalistas José Reinaldo Carvalho e Wevergton Brito Lima, é uma exigência histórica. À medida que traz para o debate temas candentes acerca da trajetória atual do Partido Comunista do Brasil (PC do B), na ocasião dos seus 100 anos de fundação, festejados em 25 de março passado.
Por minha humilde leitura, a obra se compara a documentos históricos do PC do B e do movimento comunista internacional que expuseram e confrontaram desvios de rota de partidos proletários e seus desastres políticos-ideológicos contemporâneos, e recolocaram os comunistas nos trilhos revolucionários.
A meu ver, o livro “Comunistas no Brasil 100 anos” conflui três vertentes fundamentais: 1) é um documento que decanta e informa sobre a história centenária do PC do B, sua trajetória de glória e revezes, falando para o público em geral que se interessa pelo tema e é um legado para pesquisadores; 2) dialoga com os comunistas em geral e outras forças de esquerda que combatem pelo socialismo, colocando a luta pela construção de uma sociedade justa e igualitária com possibilidade de êxito à medida que se construa as condições necessárias, em especial a organização, conscientização e mobilização das massas populares; e 3) fala para dentro do PC do B com os demais itens acima, mas sobretudo coloca o dedo na grande ferida: o Partido Comunista do Brasil trilha o caminho do oportunismo e do liquidacionismo.
A elegância, disciplina, cuidado na condução do debate e espírito fraterno de José Rinaldo e Wevergton Brito não permitiram aos autores uma exposição completamente aberta dos problemas políticos e ideológicos atuais do PC do B e um confronto direto com dirigentes, parlamentares, quadros e militantes que enveredam por condutas que estão para destruir o partido como agremiação revolucionária e vanguarda do proletariado. Palavra, aliás, que os autores sequer mencionam nas 80 páginas de sua lavra (o livro tem 138 páginas – as demais são anexos que referenciam os textos dos autores e complementam a necessária reflexão sobre os temas elencados).
Na minha opinião, o PCdoB já não é mais um partido comunista, revolucionário, e, sim, uma agremiação politicamente oportunista e ideologicamente pequeno-burguesa.
José Reinaldo Carvalho e Wevergton Brito não chegam exatamente a este nível de crítica, com essas fortes palavras. Ambos preferem fomentar o debate interno sem traumas e sem comprometer a unidade partidária, não permitindo que uma luta fratricida nos intestinos do partido provoque mais dolorosos e custosos rachas em suas fileiras. Contudo, em que pese toda a delicadeza dos autores, esses pontos estão presentes de forma categórica nesta obra imprescindível.
*João Orozimbo Negrão foi militante do PC do B de 1979 a 2018, membro do comitê regional de Goiás, fundador e presidente do partido em Rondonópolis (MT), membro do comitê regional de Mato Grosso (sendo secretário de Agitação e Propaganda e em seguida de Formação Teórica), dirigente da organização de base (OB) da Comunicação e Cultura do comitê municipal de Cuiabá (MT), membro do comitê de Taguatinga (DF) e presidente da OB dos Comunicadores do Distrito Federal.
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